'Coletes amarelos' não desistem e falam em "guerra civil"

Os confrontos entre "coletes amarelos" e a polícia começaram hoje cedo junto ao Arco do Triunfo, em Paris, com utilização de gás lacrimogéneo e canhões de água, mas os manifestantes dizem que, se for necessário, voltarão no próximo sábado.

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Lusa
01/12/2018 11:38 ‧ 01/12/2018 por Lusa

Mundo

Reportagem

"Quanto mais eles nos mandam gás, mais as pessoas ficam em cólera. Se nos deixassem manifestar nos Campos Elíseos e sem gás, as coisas não seriam assim. Hoje tenho medo que a França entre em guerra civil. Se for necessário, voltarei no próximo sábado", afirmou Corinne, "colete amarelo" vinda das imediações de Paris, em declarações à Lusa, junto ao Arco do Triunfo.

Ao contrário da semana passada, neste sábado os Campos Elíseos estão completamente controlados pela polícia. Revistas, controlos de identidade e barreiras intransponíveis estão montadas em todas as ruas que dão à avenida. Foram encontrados martelos e outros materiais que poderiam ser utilizados contra a polícia nas malas de alguns dos manifestantes, segundo os meios de comunicação franceses.

Foram mobilizados 4.000 polícias para manterem a ordem nos Campos Elíseos.

Resta assim aos cerca de 1.500 manifestantes, que não aceitaram submeter-se ao controlo da polícia, concentrarem-se à volta do Arco do Triunfo, também apelidado de Praça da Estrela, por ser uma rotunda que reúne várias avenidas.

Com todas as ruas controladas pela polícia, os manifestantes ficam no junto ao arco e tentam forçar as barreiras, sendo constantemente atingidos por granadas de gás lacrimogéneo e canhões de água.

"Sempre que os manifestantes tentam passar, somos gaseados. Tentam conter-nos aqui. Mas eu acredito que só precisamos venham mais pessoas, sem força nunca teremos nada em França. As pessoas não vêm para passear ou para visitar o Arco do Triunfo, vêm porque estão fartas desta situação", disse Dominique, vindo dos arredores de Paris.

Dominique afirma ser "um avô pacifista", reconhecendo que há pessoas que se infiltram no movimento só para destruir a cidade. Esta manhã, já foram detidas 59 pessoas pela polícia francesa. Tal como as manifestações dos últimos dois sábados, esta também não foi autorizada, sem ser possível prever quantos mais coletes amarelos se juntarão ao movimento durante o dia.

Fonte policial, citada pelos meios de comunicação franceses, referiu que dez polícias ficaram feridos.

As reivindicações dos coletes amarelos não mudaram, mesmo depois do Presidente Emmanuel Macron se ter dirigido à nação na passada terça-feira. Carga de impostos, perda do poder de compra e desilusão geral com o Governo são as queixas mais comuns entre quem escolheu vir a Paris manifestar. Anais, Marie e Gaelle vieram da Bretanha, no sudeste da França, e dizem que já só querem a demissão de Macron.

"Estamos fartas. Já nos mentiram o suficiente. Só queremos a demissão dele, já não podemos ver. Pagamos demasiado impostos, no dia 15 do mês já não temos dinheiro para comer, não podemos ter filhos porque temos medo de não lhe dar um futuro", disseram em uníssono Anais, Marie e Gaelle.

A maior parte das lojas optaram por fechar portas e barricaram as vitrinas - muitas ainda partidas desde a semana passada. Assan, que tem uma pequena mercearia na vizinhança, optou por manter o comércio aberto, mas pode fechar durante a tarde caso a situação entre a polícia os manifestantes se intensifique.

"A manhã normalmente corre bem, à tarde piora. Isto não pode continuar assim, o Governo tem de encontrar uma solução. Para quem está mesmo nos Campos Elíseos, é ainda pior. Este é primeiro fim-de-semana de dezembro e começam as compras de Natal", afirmou Assan.

O movimento de "coletes amarelos" nasceu espontaneamente num sinal de protesto contra a taxação de combustíveis em França.

As ações de contestação estão a causar grande embaraço ao Governo francês, tendo corrido mundo as imagens de confrontos entre manifestantes vestindo coletes amarelos e a polícia, no passado sábado, na emblemática avenida dos Campos Elíseos.

 

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