Julian Assange: Detido em Londres e reclamado pelos EUA

O fundador da Wikileaks, Julian Assange, foi hoje considerado culpado pela justiça britânica de infringir as condições da liberdade condicional, horas após ter sido detido na embaixada do Equador em Londres, onde estava refugiado há quase sete anos.

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© Reuters

Lusa
11/04/2019 21:08 ‧ 11/04/2019 por Lusa

Mundo

Síntese

Assange pediu asilo político naquela embaixada em agosto de 2012 para não ser extraditado para a Suécia, onde era acusado de violação, num caso entretanto arquivado.

Hoje de manhã, foi de lá retirado à força por agentes policiais da Scotland Yard à paisana que o levaram para uma carrinha da polícia.

Com um ar envelhecido, desgrenhado e frágil, longos cabelos brancos e barba hirsuta, visíveis num vídeo divulgado pela agência Ruptly TV, Assange gritou: "O Reino Unido deve resistir!".

O cidadão australiano de 47 anos foi detido devido a um mandado de extradição norte-americano por "pirataria informática", que será analisado numa audiência judicial a 02 de maio, e a um mandado emitido em junho de 2012 pela justiça britânica por não-comparência em tribunal, um crime passível de ser punido com um ano de prisão.

Ele vai "contestar e combater" o pedido de extradição, declarou à imprensa, após a sua comparência em tribunal, a sua advogada Jennifer Robinson, para quem a detenção de Julian Assange "cria um perigoso precedente para os órgãos de comunicação social e os jornalistas" em todo o mundo.

O australiano é formalmente acusado nos Estados Unidos de associação criminosa com vista a cometer "pirataria informática", punível com uma pena máxima de cinco anos de prisão, revelou hoje o Departamento de Justiça norte-americano.

É também acusado de ter ajudado a ex-analista dos serviços secretos norte-americanos Chelsea Manning a obter uma palavra-passe para aceder a milhares de documentos classificados como segredos de defesa.

Julian Assange compareceu a meio do dia numa sala de audiências do tribunal de Westminster, em Londres, vestido com roupa de cor escura, esboçando uma saudação, de polegar erguido, na direção da imprensa, antes de mergulhar na leitura de um livro, constatou a agência AFP no local.

O juiz Michael Snow descreveu-o como um "narcisista incapaz de ver além do seu próprio interesse" e declarou-o culpado de violação das condições da sua liberdade condicional. A sua pena será anunciada numa data posterior não especificada.

A detenção de Assange causou indignação entre os seus apoiantes, que classificaram como "ilegais" a decisão do Equador de lhe retirar o asilo político e as condições da sua detenção, já que foi o embaixador equatoriano em Londres quem chamou a polícia para o deter.

Na rede social Twitter, a Wikileaks condenou o país latino-americano por ter "ilegalmente posto fim ao asilo político concedido a Julian Assange, violando o direito internacional", e por ter "convidado" a polícia britânica a entrar na embaixada.

Moscovo acusou Londres de "estrangular a liberdade", ao passo que o Presidente boliviano, Evo Morales, figura da esquerda radical latino-americana, considerou tratar-se de uma "violação da liberdade de expressão".

Para o ex-Presidente equatoriano Rafael Correa, esta detenção foi "uma vingança pessoal do [atual] Presidente, Lénin Moreno, porque a WikiLeaks divulgou há alguns dias um caso muito grave de corrupção" que o envolve.

Trata-se, disse à AFP o antigo chefe de Estado do Equador, da revelação pelo 'site' WikiLeaks da existência de "uma conta secreta no Panamá, no Balboa Bank", em nome da família Moreno.

Por seu lado, Lénin Moreno defendeu no Twitter a retirada do asilo concedido a Julian Assange, uma decisão apresentada como "soberana" e tomada "após as suas repetidas violações das convenções internacionais e dos protocolos da vida quotidiana".

A nacionalidade equatoriana, que lhe tinha sido atribuída em 2017, foi-lhe igualmente retirada.

"Ele não respeitou nenhuma das suas obrigações e isso obrigou o Equador a pôr em vigor, em outubro passado, um protocolo especial sobre a coabitação numa embaixada (...), ele continuou a infringir esse protocolo", declarou o embaixador do Equador em Londres, Jaime Marchán.

As críticas foram também consideradas "totalmente infundadas" pelo secretário de Estado britânico para a Europa e as Américas, Alan Duncan, que assegurou que "os seus direitos não foram violados" e que tudo foi feito "no respeito do direito internacional".

Mas a relatora da ONU sobre as execuções extrajudiciais, Agnès Callamard, sustentou que, ao expulsar Assange da embaixada, o Equador o fez correr "um risco real de graves violações dos seus direitos fundamentais".

O Governo britânico, por sua vez, concentrou-se em apresentar Assange como qualquer outra pessoa.

"Ninguém está acima da lei", declarou a primeira-ministra, Theresa May, no Parlamento, ao passo que o chefe da diplomacia, Jeremy Hunt, disse que ele "não é um herói".

Na Suécia, a acusadora de Assange tenciona pedir a reabertura do caso de violação, indicou hoje o seu advogado.

"Vamos fazer tudo para que os procuradores do ministério público reabram o inquérito sueco e que Assange seja entregue à Suécia e levado a julgamento por violação", afirmou Elisabeth Massi Fritz.

 

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