A UE e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) fecharam no final do mês passado um Acordo de Associação Estratégica para criar uma das maiores áreas de comércio livre do mundo, depois de 20 anos de negociações, num acordo sem precedentes na relação entre a Europa e a América Latina.
Num artigo de opinião publicado no jornal francês Le Parisien, os deputados franceses dizem que o acordo - que integra um mercado de 770 milhões de habitantes com cerca de 100.000 milhões de euros em comércio bilateral de bens e de serviços - é "contrário ao interesse nacional".
"Como se justifica a imposição de mais normas para os produtores franceses criadores e de abrir as nossas portas à produção agrícola que não as cumpre", questionam os deputados, defendendo a criação de barreiras ecológicas para impedir a importação de países que não cumprem os padrões ambientais.
Os republicanos acusam ainda o presidente francês Emmanuel Macron de preferir "ecologia burocrática".
O acordo UE-Mercosul foi fechado a 28 de junho depois de 48 horas de intensas negociações entre diversos ministros dos países do Mercosul e a Comissão Europeia, reunidos em Bruxelas.
Os representantes dos dois blocos mantinham estreitos contactos com os líderes europeus e sul-americanos reunidos na Cimeira do G20 em Osaka, Japão.
Desde 1999, o Mercosul e a União Europeia mantêm um acordo de comércio livre. As negociações foram interrompidas em 2004 e retomadas em 2010, mas ganharam velocidade a partir de 2016, quando o Mercosul começou a sair do seu confinamento comercial e à medida que os Estados Unidos consolidavam uma postura protecionista na relação com o mundo.
Os sul-americanos vendem, principalmente, produtos agropecuários. Já os europeus exportam produtos industriais, como peças para automóveis, automóveis e farmacêuticos.
Os países europeus que mais resistiam a um acordo eram a França, Bélgica, Irlanda e Polónia receosos da concorrência agropecuária do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Pelo lado do Mercosul, Argentina e, sobretudo, Brasil mantinham resistência quanto a uma abertura industrial dos seus setores mais sensíveis.
Dias depois da conclusão do acordo, o ministro francês da Transição Ecológica assegurou que não ratificará o acordo entre a União Europeia e os países do Mercosul enquanto o Brasil não cumprir os seus compromissos de luta contra a desflorestação da Amazónia.
O Presidente francês Emmanuel Mácron saudou no sábado a conclusão do vasto tratado de livre comércio, afirmando-se, no entanto, "vigilante" sobre a sua colocação em prática.