Londres, 07 set 2019 (Lusa) - O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, voltou esta semana a entrar na guerra dos números, ao invocar que cada mês de adiamento do 'Brexit' custa ao país 1,1 mil milhões de euros, um valor considerado questionável.
"O Governo está a gastar mil milhões de libras [1,1 mil milhões de euros] para colocar mais 20.000 policias nas ruas. Ele quer gastar mil milhões de libras por mês - líquidos - para nos manter na UE além de 31 de outubro. Eu nunca vou permitir isso", disse na quarta-feira, referindo-se ao líder do principal partido da oposição, Jeremy Corbyn, durante o debate semanal no parlamento.
Um dia depois, voltou a insistir na mesma questão, num discurso durante uma visita a uma academia de polícia em West Yorkshire, no norte de Inglaterra.
"Algumas pessoas sugerem que devemos gastar mil milhões de libras a mais por mês, não 750 milhões de libras (837 milhões de euros), mas mil milhões de libras a mais por mês para ficar na União Europeia depois de 31 de outubro. E tenho a dizer que não acho que isso seria um bom uso de dinheiro público", acusou.
O número já tinha sido usado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Dominic Raab, na terça-feira, levando dois serviços de verificação de factos [fact-checking] a estudar a sua veracidade.
A BBC corroborou que o valor corresponde àquilo que o Reino Unido paga por mês em bruto para o orçamento comunitário, mas disse que este montante não tem em consideração o reembolso britânico nem o dinheiro recebido pelo Reino Unido em subsídios, o que reduziria o total para 744 milhões de libras (830 milhões de euros).
Em 2018, de acordo com o ministério das Finanças, o Reino Unido contribuiu com 17,4 mil milhões de libras (19,4 mil milhões de euros) para o orçamento da UE, mas reteve 4,2 mil milhões (4,7 mil milhões de euros) do reembolso negociado em 1984 por Margaret Thatcher.
Aos 13,2 mil milhões de libras (14,7 mil milhões de euros) de pagamento efetivo, a BBC estima que devem ser deduzidos 4,2 mil milhões de libras (4,5 mil milhões de euros) de subsídios e apoios comunitários a obras e atividades como a agricultura.
Isto reduz o valor efetivo para 8,9 mil milhões de libras (9,9 milhões de euros), o que, dividido por 12 meses, resulta em 744 milhões de libras por mês, soma que pode descer mais, para perto cerca de 600 milhões de euros, se forem contabilizados apoios dados a empresas privadas nem sempre registados pelas finanças públicas.
Também o verificador Full Fact britânico considera que o número usado pelo Governo é falacioso porque o executivo mantém, oficialmente, a intenção de um 'Brexit' com um acordo, que implica o pagamento de uma compensação financeira de 33 mil milhões de libras (36 mil milhões de euros).
"É potencialmente enganador, pois baseia-se na comparação do custo de qualquer extensão especificamente com um cenário de saída sem acordo, no qual o Reino Unido não pagaria qualquer 'fatura de divórcio'", refere.
Esta organização independente britânica fundada em 2010 tem um historial grande de correção a afirmações de Boris Johnson anterior à sua chegada à chefia do governo.
A mais famosa foi a repetição por Boris Johnson, durante campanha para o referendo de 2016, de que o Reino Unido poderia depois do 'Brexit' aplicar no serviço nacional de saúde 350 milhões de libras (390 milhões de euros) que paga por semana para Bruxelas.
Esse valor foi desmentido oficialmente pelo instituto de estatísticas britânico precisamente porque não tinha em conta o reembolso nem os apoios recebidos da UE.