Presidenciais na Tunísia com 26 candidatos e forte indecisão

A Tunísia celebra domingo eleições presidenciais antecipadas e afirma-se como o país que iniciou a Primavera árabe a prosseguir na via da democratização, dinâmica que colide com a crise económica e o regresso de uma elite do antigo regime.

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Lusa
13/09/2019 08:33 ‧ 13/09/2019 por Lusa

Mundo

Tunísia

As projeções não são conclusivas sobre quem será o futuro Presidente do país entre os 26 candidatos que se apresentam à primeira volta de domingo neste país do norte de África com 11,5 milhões de habitantes e sete milhões de inscritos nos cadernos eleitorais.

Inicialmente previsto para 17 de novembro, o escrutínio foi antecipado após a morte do Presidente Béji Caid Essebsi em 25 de julho. Alguns meses antes, e perante um descrédito quase generalizado da classe política confirmado nas municipais de 2018, o atual primeiro-ministro, Youssef Chahed, 43 anos, parecia beneficiar da dupla vantagem da crise no partido Nidaa Tounes (Apelo da Tunísia, fundado em 2012 por Caid Essebsi e que o catapultou à presidência dois anos depois), e por deter o controlo da máquina governamental.

No entanto, esta vantagem parece ter esmorecido. Entre os candidatos, e para além de Chahed, dois já foram primeiros-ministros e oito, incluindo o chefe do Governo, membros ou próximos do Nidaa Tounes, vencedor das legislativas em 2014.

Esta heterogénea formação, que surgiu com um programa anti-islamita, foi de seguida dizimada pelas lutas internas de poder e não apresenta candidato, limitando-se a apoiar o ministro da Defesa, Abdelkarim Zbidi.

Duas mulheres concorrem ao escrutínio, a advogada anti-islamita Abir Moussi que reivindica a herança do antigo regime do ditador Zine el Abidine Ben Ali e defensora de um Estado "forte", e uma antiga ministra, Salma Elloumi.

Nas vésperas do escrutínio permanece a incerteza e todos os cenários estão em aberto devido à forte indecisão do eleitorado.

A instância eleitoral do país (Isie) proibiu a divulgação de sondagens, mas segundo os estudos que circulam o favorito seria o controverso magnata dos media Nabil Karoui, na prisão desde 23 de agosto após uma tentativa falhada de o afastar da corrida através da alteração da lei eleitoral.

Fundador da Nessma TV em 2007, percorreu desde 2015 as regiões pobres e esquecidas do país, em particular o interior, com a sua associação de caridade Khalil Tounes, mediatizou as suas ações através da cadeia televisiva, e surgiu em primeiro lugar em diversas projeções. A sua detenção dez dias antes da campanha, ordenada pelo poder, foi considerada um "mau reflexo da política à antiga".

Desta forma, Nabil Karoui não pôde participar nos inéditos debates televisivos que foram organizados em três noites com os candidatos, um acontecimento muito raro no mundo árabe. Uma operação com grande impacto e que suscitou manifestações de júbilo entre os muitos tunisinos que consideram o seu país um "oásis" de democracia na região.

A inversão do calendário eleitoral -- as legislativas permanecem agendadas para 06 de outubro --, implicou que as principais formações antecipassem a apresentação dos seus candidatos, incluindo o partido islamita moderado Ennahda (Movimento do Renascimento), um ator incontornável da política interna.

Perante uma campanha que precede em poucas semanas as legislativas, e ao contrário da sua tradição, o Ennahda optou por designar o advogado e atual presidente interino do parlamento, Abdelfattah Mourou, 71 anos, apesar da oposição do líder do partido.

Os observadores admitem que Mourou, conhecido pela sua eloquência, poderá seduzir algum eleitorado indeciso. Mas vai confrontar-se com o antigo secretário-geral do Ennahda e primeiro-ministro entre 2011 e 2013, Hamadi Jebali, em rutura com o partido desde 2014.

A base eleitoral do Ennahda também poderá ser atraída por outros candidatos que personificam a rutura com o antigo regime, como Moncef Marzouki, antigo presidente da República no período da Assembleia constituinte. Ou ainda Kais Saied, professor de direito constitucional e um novato em política, mas com uma reputação de integridade moral e de proximidade com os ideais da revolução, que recentemente defendeu posições conservadoras nas questões sociais.

Diversos candidatos parecem surgir muitos próximos nas projeções, em particular Chahed, Zbidi e Mourou. No entanto, Moussi e ainda Saied poderão provocar uma surpresa.

A questão da função do presidente no regime permanece uma importante questão política. E os observadores interrogam-se se deverá cumprir a função de um líder, de um dirigente que aplique um projeto político, ou uma autoridade acima dos partidos que permita ao parlamento e ao governo exercer os seus poderes constitucionais.

A maioria dos candidatos tem manifestado a intenção de serem líderes fortes, num país confrontado com múltiplos desafios. No entanto, o presidente eleito estará sempre dependente dos equilíbrios provenientes das legislativas. E à semelhança do que tem sucedido desde a queda do regime ditatorial, governar com ou sem o Ennahda vai permanecer uma questão central.

No entanto, os analistas continuam a sublinhar que, apesar das imperfeições da sua democracia (pressões sobre a justiça, conjugação entre interesses económicos e política, ausência de projetos sociais), a Tunísia vai registar presidenciais tensas, mas livres e abertas, como pouco países árabes conhecem realmente.

A campanha eleitoral, com uma eventual segunda volta a ser realizada a 13 ou 20 de outubro, ficou ainda assinalada pelo facto de as questões socioeconómicas terem permanecido no centro dos debates em detrimento da luta antiterrorista, um tema omnipresente durante muito tempo numa Tunísia traumatizada pelos atentados, e mesmo que permaneçam as inquietações securitárias.

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