"A maior ameaça para o povo Yanomami, hoje, é constituída pela invasão do seu território por milhares, dezenas de milhares de exploradores ilegais de ouro, conhecidos como garimpeiros", afirmou Corrado Dalmonego, de 43 anos e há 12 a trabalhar na missão Catrimani, junto ao povo Yanomami.
O sacerdote falava aos jornalistas no Vaticano, onde se encontra para participar, na qualidade de auditor, no Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, que hoje começou.
Para o missionário do Instituto da Consolata, aquela é a maior ameaça que tem "um impacto devastador para o meio ambiente, para a natureza e para as pessoas, seja ao nível da vida física, através da contaminação dos rios e dos outros seres viventes nessa floresta, seja na vida cultural e social das comunidades".
A terra Yanomami, a maior área indígena do Brasil, tem 9,6 milhões de hectares distribuídos entre os estados brasileiros de Roraima e Amazonas.
Os Yanomami são um dos maiores povos indígenas do Brasil, com cerca de 26 mil pessoas, e a sua terra foi reconhecida, demarcada e homologada em 1992. Na Venezuela, que faz fronteira com o Brasil, também é conhecida a presença deste povo, mas não existem dados oficiais.
O sacerdote, membro do Conselho Indigenista Missionário, recordou que, "no final da década de 80 para 90, se contavam cerca de 40 mil garimpeiros, centenas de pistas clandestinas para aviões na floresta, no território dos Yanomami".
"Essa situação levou o senador da República Severo Gomes a descrever a situação como um Vietname, dada a quantidade de helicópteros, aviões e destruição que constatou no território Yanomami", contou.
Segundo Corrado Dalmonego, "atualmente, está a repetir-se esta situação junto a diferentes rios que 'cortam' a terra Yanomami" e que são afluentes do rio Branco que desagua no rio Negro. Este, juntamente com o rio Solimões, forma o rio Amazonas.
Sobre a ação que desenvolve na missão Catrimani, fundada em 1965 no Estado de Roraima, o missionário explicou que "trabalha numa equipa missionária" que acompanha a vida do povo Yanomami em diferentes frentes, como a formação, educação, direitos, questões territoriais, mas também o trabalho de órgãos públicos no âmbito da saúde. Acresce ainda a promoção e proteção da cultura e língua indígenas.
Questionado sobre o trabalho de evangelização, o sacerdote recusou tratar-se de uma imposição.
"Nunca se impõe uma evangelização, a evangelização não existe fora de um diálogo. O diálogo existe sempre na escuta e no falar, tem as duas dinâmicas", acrescentou Corrado Dalmonego, coautor do livro "O Encontro Nohimayou [estabelecer amizade]", publicado em 2017, sobre a missão Catrimani.
"Os Yanomami perguntam-me sobre o que Deus nos fala perante determinadas situações. Eles pedem-nos para rezar, por exemplo, para alcançar a cura de um doente", referiu, considerando que a missão junto dos povos indígenas é análoga àquela que se passou com os primeiros apóstolos.
O Conselho Indigenista Missionário é um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil que atua na defesa dos direitos povos indígenas e dos seus territórios.
O Papa Francisco anunciou um sínodo especial sobre a Amazónia em 15 de outubro de 2017, que arrancou hoje e termina no dia 27. Tem como tema "Amazónia: Novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral".
A Amazónia, que tem a maior biodiversidade registada numa área do planeta, tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França). Foi fustigada por incêndios em agosto.
De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), entidade coordenadora e principal executora da política para os indígenas do Governo do Brasil, a população indígena do país é de 817.963 pessoas, das quais 502.783 vivem em zonas rurais e 315.180 habitam as zonas urbanas.