Munira Subasic, presidente da associação 'Mães de Srebrenica', disse ao portal de notícias bósnio Klix que a petição será enviada ao Comité Nobel.
"O homem que defendeu os carniceiros dos Balcãs não pode ter esse prémio", disse Subasic.
"Ficámos muito afetados como vítimas. Como é que alguém que defende criminosos pode receber o Prémio Nobel e, acima de tudo, defende aqueles que cometeram o genocídio?", questionou a presidente da associação.
Em Srebrenica, milícias servo-bósnias assassinaram 8.000 homens e rapazes muçulmanos em 1995 durante a guerra na Bósnia, um ato que a justiça internacional descreveu como genocídio.
O Nobel da Literatura de 2019 foi atribuído na quinta-feira a Peter Handke, de 76 anos.
A sua posição pró-Sérvia reabriu velhas feridas nos Balcãs Ocidentais, um território ainda traumatizado pelas consequências das guerras na ex-Jugoslávia.
Para alguns, o austríaco Handke é um apologista de crimes cometidos em nome do nacionalismo sérvio, enquanto para outros é um intelectual que se atreveu a lutar contra a demonização dos sérvios como a causa de todos os males das guerras na ex-Jugoslávia.
Sefik Dzaferovic, um membro muçulmano da Presidência tripartida da Bósnia, também considerou uma pena recompensar Handke, que descreveu como um admirador do autoritário ex-Presidente sérvio Slobodan Milosevic (1941-2006).
"É vergonhoso que o Comité do Nobel ignore o facto de Handke justificar e defender Slobodan Milosevic e os seus executores Radovan Karadzic e Ratko Mladic, que foram condenados pelos mais graves crimes de guerra, incluindo genocídio", disse Dzaferovic.
Também o Presidente do Kosovo, Hashim Thaci, criticou a concessão do galardão a Handke.
"O genocídio na Bósnia-Herzegovina tinha um autor. Handke escolheu apoiar e defender esses autores. A decisão sobre o Prémio Nobel trouxe uma dor imensa às inúmeras vítimas", publicou Thaci na rede social Twitter.
O primeiro-ministro da Albânia, Edi Rama, também se manifestou na mesma rede social.
"Eu nunca pensei que tivesse vontade de vomitar por causa de um Prémio Nobel, mas a vergonha está a tornar-se uma parte normal do mundo em que vivemos", referiu Rama.
"NÃO, não podemos ser tão insensíveis ao racismo e ao genocídio!", acrescentou o chefe do Governo albanês.
Inúmeros intelectuais da Bósnia, Kosovo e Albânia criticaram a decisão do júri do Nobel, qualificando Handke de apologista e negacionista de crimes cometidos em nome do nacionalismo sérvio.
Na Sérvia, onde Handke é amplamente reconhecido e premiado, o galardão foi recebido com alegria.
Peter Handke negou ter questionado ou minimizado o massacre e disse que pretendia apenas esclarecer a imagem maniqueísta oferecida pela imprensa internacional de que os sérvios eram "maus" e os bósnios-muçulmanos "bons".
Intelectuais austríacos de renome, como Noel Elfriede Jelinek e o escritor Robert Menasse, defenderam o direito de Handke de discordar e criticaram a tentativa de silenciá-lo.
Para outros, como a falecida escritora norte-americana Susan Sontag ou o italiano Claudio Magris, Handke minimizou o ultranacionalismo sérvio e as suas ações agressivas.