"O português está a sobreviver muito mais do que se esperava em Timor"
O antigo chefe de Estado de Timor-Leste José Ramos-Horta sublinhou a "seriedade" de Portugal quando se optou pelo português como língua oficial no país, notando que a língua evoluiu muito mais do que se esperava.
© Lusa
Mundo Ramos-Horta
Numa resposta a uma pergunta durante uma "entrevista de vida" realizada no âmbito da terceira edição da Morabeza - Festa do Livro, promovido na cidade da Praia pelo Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Ramos-Horta referiu que o português é um dos três pilares da identidade timorense, a par da língua nacional tétum e da religião católica.
O antigo chefe de Estado lembrou que no último ano da missão civilizadora portuguesa apenas 7% dos timorenses falavam o português, mas que essa percentagem é atualmente de 30% dos pouco mais de 1.2 milhões de pessoas.
"O português está a sobreviver muito mais do que se esperava em Timor-Leste", considerou, frisando que, nos últimos dez anos, a língua de Camões "já se infiltrou muito" no tétum, a língua nacional oral.
"O Portugal antigo, antes do 25 de abril, fez muito pouco, ou quase nada, pelo português em Timor. Se hoje o português está a expandir em Timor, é graças à seriedade com que Portugal responde à nossa decisão estratégica de utilizar o português como língua oficial", enfatizou.
Neste sentido, entendeu que a literatura e o livro podem ligar os países que falam o português, não obstante Timor-Leste estar numa fase em que a produção literária em português e em geral ainda é muito limitada.
Ramos-Horta lembrou que a embaixada de Portugal em Timor-Leste, a Fundação Oriente e o Instituto Camões têm feito iniciativas ao longo dos anos, como feiras de livros e cinema de língua portuguesa.
"Não é nada de novo que nós não tenhamos feito. E verificamos que essas iniciativas como esta que está aqui a acontecer agora é muito útil também porque os livros são de preço acessível", sustentou, indicando que o livro mais comprado em Timor é o dicionário de língua portuguesa.
"Porque é muito útil, prático para os jovens que ainda estão a aprender o português", notou.
Ramos Horta afirmou que Cabo Verde é um "grande exemplo" de democracia e de boa governação e que cada vez que visita o país fica "impressionado" com os progressos materiais, culturais e económicos.
A edição de 2019 da Morabeza arrancou na sexta-feira à noite, cidade da Praia, e conta com uma feira do livro com obras de autores internacionais e lusófonos, bem como mesas de debate, visitas a escolas, 'showcooking', sessões de literatura com crianças, pintura de murais e debates.
Na cidade da Praia, a Biblioteca Nacional de Cabo Verde foi a escolhida para receber os encontros com os autores, mas o evento estende-se à ilha do Fogo, onde a programação divide-se entre Chã das Caldeiras, Santa Catarina, São Filipe e Mosteiros.
Entre outros convidados para conversas com o público está prevista a presença na Morabeza deste ano de Abdulai Sila, escritor da Guiné-Bissau, Eurídice Monteiro, Fausto do Rosário, Germano Almeida, Manuel Veiga e Margarida Fontes, de Cabo Verde, Conceição Lima, de São Tomé e Príncipe, Mário Augusto e João Tordo, de Portugal, e Ondjaki, de Angola.
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