"Nós sentimo-nos completamente desamparados, estamos gritando a verdade na cara e os políticos não nos fazem caso", reagiu, com indignação, a jovem espanhola de 20 anos Marta Macías, uma das organizadoras das mobilizações na capital espanhola.
A jovem integra o coletivo Fridays For Future, um movimento impulsionado pela ativista sueca Greta Thunberg, que iniciou em 2018 uma greve às aulas todas as sextas-feiras em protesto contra a falta de medidas para travar o aquecimento do planeta.
Para a jovem Marta, de Logroño, capital de La Rioja, no norte da Espanha, Greta deu o 'empurrão' de que os jovens de todo o mundo precisavam para sair às ruas.
"Greta é uma inspiração. Foi uma faísca que fez com que todos juntos pudéssemos avançar. O movimento climático conseguiu impulsionar os jovens para mostrar à sociedade que estamos numa situação de emergência", disse à Lusa.
"Não importa de onde venhamos ou a história que tenhamos, todos temos o mesmo objetivo e estamos aqui por uma mesma luta", enfatizou.
No seu entender, as conferências do clima não têm tido os efeitos necessários e não têm sido propostas medidas reais para travar a emergência climática.
"Muitos de nós sentem medo e não entendo como os políticos não têm um mínimo de empatia e reflexão geral que vá mais além do dinheiro. O potencial transformador do nosso movimento é que nos dá uma visão geral e transversal", comentou.
Jovens de diversas partes do mundo reúnem-se esta semana durante a Cimeira Social, um evento organizado pela sociedade civil à margem da Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.
O jovem chileno de 16 anos Joel Peña, de origem indígena Mapuche, descreveu enfaticamente a dificuldade e a insegurança de atuar como um ativista ambiental em países da América Latina.
"Para ser um ativista na América Latina é preciso pensar nos custos e riscos. Perseguem-nos e matam-nos. Lutamos para garantir o futuro e ter uma vida digna. No Chile, privilegia-se muito mais o dinheiro e as empresas do que os direitos básicos das pessoas. É terrível a sensação de que, depois de tantos governos, não houve qualquer mudança", disse o jovem, que lembrou que o coletivo Fridays for Future no Chile foi investigado pela polícia e sofreu repressão.
Joel conversou com muitos jovens que esgotaram uma das salas do Edifício Multiúso, no campus da Universidade Complutense de Madrid, onde se realiza a Cimeira Social.
"Nós como jovens conscientes podemos mudar o mundo, mas sabemos que também podemos parar o mundo se quisermos", comentou.
Para a queniana de 24 anos Elizabeth Wanjiru Wathuti, fazer greve pelo clima significa "lutar pelas vozes de muitas pessoas da sua comunidade e no seu país que estão a sofrer os impactos da crise climática".
"Você só pode proteger aquilo que você ama. E eu estou a lutar pelo que amo, a natureza. Plantei pela primeira vez uma árvore quando tinha 7 anos de idade", disse à Lusa.
A jovem lembrou com pesar os diversos eventos extremos climáticos que causaram desastres no continente africano, como inundações, deslizamentos de terras e secas prolongadas.
"Muitas pessoas estão a sofrer e a morrer pela crise climática. Estas pessoas não recebem espaço para falar ou lutar por justiça. Eu tenho de estar na frente para lutar pelo meu futuro e o de tantas pessoas na minha região e continente", referiu.
A jovem queniana defende que os povos do continente africano recebam o devido reconhecimento pelos impactos das mudanças climáticas.
"Por que temos que carregar grande parte do peso? Se nós, jovens, não falarmos em uma única voz, não conseguiremos garantir o futuro do nosso planeta", alertou.