O terceiro discurso do Estado da União de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos espelhou a divisão que se vive entre a Casa Branca e a Câmara dos Representantes, a câmara baixa do Congresso norte-americano, controlada pelos democratas. Uma divisão que se tornou ainda mais visível desde que os democratas decidiram avançar com o processo de 'impeachment' contra o presidente dos Estados Unidos.
O discurso do Estado da União aconteceu na véspera de ser conhecida a decisão do Senado - maioritariamente republicano - relativamente ao julgamento de 'impeachment', e que, salvo um volte-face dramático, deverá ilibar Trump.
Foi neste 'clima de guerra' que Trump se apresentou no Congresso para fazer o discurso do Estado da União e antes de começar a falar recusou cumprimentar Nancy Pelosi, a presidente da Câmara dos Representantes e principal responsável pelo processo de 'impeachment' a Trump, como dá conta o The Guardian.
Porém, o momento que mais marcou o Estado da União aconteceu quando o presidente norte-americano terminou o discurso. Enquanto era aplaudido, Pelosi, que estava ao lado do vice-presidente Mike Pence e atrás de Trump, rasgou o discurso do Estado da União, num gesto cheio de simbolismo e que imediatamente se tornou viral.
Quando os jornalistas lhe perguntaram porque tinha rasgado o discurso de Trump, Pelosi respondeu que foi a "coisa mais cortês a fazer, considerando a alternativa". Mais tarde, a presidente da Câmara dos Representantes apresentou uma explicação mais elaborada no Twitter.
Pelosi a acenar com as folhas rasgadas© Getty Images
"O manifesto de inverdades apresentando página após página no discurso desta noite devia ser um apelo à ação por parte de todos os que esperam a verdade do presidente e políticas à altura do seu cargo e do povo americano", afirmou Nancy Pelosi.
The manifesto of mistruths presented in page after page of the address tonight should be a call to action for everyone who expects truth from the President and policies worthy of his office and the American people. #SOTU https://t.co/7rUFbhWDDQ
— Nancy Pelosi (@SpeakerPelosi) February 5, 2020
A reação da Casa Branca não tardou. Também no Twitter, acusou Pelosi de ter desrespeitado algumas das pessoas mencionadas no discurso de 78 minutos de Trump.
Speaker Pelosi just ripped up:One of our last surviving Tuskegee Airmen.The survival of a child born at 21 weeks.The mourning families of Rocky Jones and Kayla Mueller.A service member's reunion with his family.That's her legacy.
— The White House (@WhiteHouse) February 5, 2020
Trump focou uma boa parte do seu discurso na situação económica dos Estados Unidos, salientando que "os anos de decandência económica acabaram" e que os "dias daqueles que usavam o nosso país, aproveitavam-se dele (...) ficaram para trás". Também lançou farpas à administração Obama, frisando que se "as políticas falidas do governo anterior" não tivessem sido revertidas, "o mundo agora não estava a ver esse grande êxito económico".
O presidente prometeu ainda que no início do próximo ano, os Estados Unidos terão mais de 800 quilómetros de muro construídos na fronteira com o México.
Assim vai a política nos Estados Unidos, num ano que ficará marcado pelas eleições em novembro, o que poderá acentuar ainda mais as divisões num país que já está bastante dividido.