Até terça-feira, a RCA tinha sido relativamente poupada pela pandemia, tendo confirmados até aquela data apenas quatro casos de infeção pela covid-19, todos importados.
"Com a deteção de um quinto caso em 24 de março de 2020, há motivos para recear a transmissão local", disse hoje o chefe de Estado, Faustin Archange Touadera, numa declaração à agência de informação France-Presse.
As autoridades da RCA estão preocupadas com a propagação do novo coronavírus, num país onde metade da população está em estado de emergência alimentar, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), e por isso anunciaram novas medidas para limitar a pandemia.
Nestas medidas incluem-se a proibição de entrada a estrangeiros na RCA por 15 dias que sejam provenientes de "países com transmissão local".
Porém, esta medida tem uma exceção, não se aplicando a diplomatas e pessoal de organizações não-governamentais.
Outras medidas tomadas foram o encerramento de escolas, desde as do ensino pré-escolar até às universidades, assim como a restrição aos movimentos populacionais entre a capital do país, Bangui, e o resto do território.
Esta última medida não será fácil de implementar, já que dois terços do território nacional são controlados por grupos armados.
Na quarta-feira, o representante especial do secretário-geral da ONU para a África Central, François Louncény Fall, apelou a um cessar-fogo entre as partes em conflito na região "para permitir a implementação rápida e eficaz das estratégias nacionais de resposta".
"Devemos lutar juntos, agora, contra este flagelo que não poupa nem os beligerantes, nem as populações civis, nem os líderes políticos", acrescentou.
Na quinta-feira um perito das Nações Unidas em direitos humanos apelou ao cessar-fogo na RCA, país que considerou estar à beira de "uma catástrofe" sanitária definitiva se não concentrar esforços no combate ao novo coronavírus.
"A República Centro-Africana está a ser atingida pela pandemia da covid-19 e a caminhar para uma catástrofe sanitária definitiva se não cessarem imediatamente as hostilidades no país", afirmou Yao Agbetse, especialista independente da ONU sobre a situação dos direitos humanos naquele país africano.
O especialista saudou as medidas tomadas pelo Governo da RCA contra a covid-19, mas lembrou que estas "só podem ser divulgadas e respeitadas na maior parte do território nacional ocupado por grupos armados com o forte envolvimento dos seus líderes".
Portugal está presente na RCA desde o início de 2017. A 7.ª Força Nacional Destacada, constituída por 180 militares, partiu recentemente para o país, de forma a integrar a missão da ONU durante seis meses.
Os militares da 7.ª Força Nacional Destacada vão constituir a Força de Reação Rápida ao serviço da Minusca.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou cerca de 540 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 25 mil.
Dos casos de infeção, pelo menos 112.200 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu, com mais de 292 mil infetados e quase 16 mil mortos, é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 8.165 mortos em 80.539 casos registados até quinta-feira.
A Espanha é o segundo país com maior número de mortes, registando 4.858, entre 64.059 casos de infeção confirmados até hoje, enquanto os Estados Unidos da América são desde quinta-feira o que tem maior número de infetados (mais de 85 mil).
Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.