O reforço do auxílio da China, que na semana passada enviou para Islamabad ventiladores, máscaras e material médico, surge na altura em que crescem as críticas ao Governo paquistanês pela maneira "branda" como estará a combater a pandemia
Apesar de ter fechado as fronteiras com o Afeganistão e o Irão, um dos países mais afetados do mundo pelo coronavírus, o Paquistão autorizou a realização, em Lahore, de um encontro de dezenas de milhares de clérigos islâmicos de todo o mundo, durante três dias.
Pelo menos 200 clérigos acabaram a cumprir quarentena num campo nos arredores da cidade, e há registo de diversos infetados que regressaram aos respetivos países, nomeadamente na faixa de Gaza, Palestina.
O Paquistão continua também a permitir a realização de cerimónias religiosas que atraem às mesquitas milhares de pessoas, por não querer entrar em conflito com os clérigos conservadores.
A proximidade do Irão, onde há mais de 35 mil infetados e 2.157 vítimas mortais, parece ser agora a grande preocupação do governo paquistanês, que ainda não avançou com o "lockdown" (encerramento) do país, como tem sido reclamado pelas autoridades de saúde pública internacionais.
A China tem sido o principal apoio internacional destes países, no âmbito do projeto 'One Belt, One Road', enviando material, mantimentos e profissionais de saúde, um apoio que a comunidade internacional segue com alguma desconfiança, devido aos planos chineses para a região.
O projeto chinês 'One Belt, One Road' (OBOR) procura desenvolver redes de cooperação, comércio e infraestruturas entre a Ásia, África e Europa através da criação de um cinturão económico da Rota da Seda e de uma Rota Marítima da Seda.
Apresentado em 2013, o projeto tem levado a China a implantar-se como a principal potência comercial, através da assinatura de contratos de cooperação com os países destas regiões.
À medida que a pandemia avança pelo Médio Oriente, sul da Ásia e norte de África, tem crescido na comunidade internacional a dúvida se as estruturas de saúde pública de alguns países terão capacidade para dar uma resposta mínima, tendo em conta a instabilidade económica, crises de refugiados e até guerras que têm atingido estas regiões ao longo dos anos.
Na Líbia, por exemplo, o sistema de saúde está à beira do colapso após sucessivos conflitos armados, apesar de até agora só haver confirmação oficial de um infetado.
O embaixador americano em Tripoli, Richard Norland, apelou hoje aos grupos em conflito que deponham armas e se unam para ajudar o país a enfrentar a propagação do coronavírus.
Também na faixa de Gaza há apenas nove casos registados de infeção, mas as estruturas de saúde pública são frágeis devido ao conflito armado e ao controlo apertado da fronteira imposto por Israel após a tomada do poder pelo Hamas, em 2007.
O Iémen é outro país dilacerado pela guerra entre os rebeldes Houthis e a coligação liderada pelos sauditas. Nesta guerra morreram já 100 mil pessoas e foram desalojadas centenas de milhares de pessoas.
O mesmo sucede no Sudão, onde a economia e as estruturas de saúde foram desmanteladas por sucessivos conflitos que mataram e desalojaram milhares de pessoas.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 600 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 28.000.
Dos casos de infeção, pelo menos 129.100 são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.