Num artigo publicado na quarta-feira, duas representantes da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês) recomendam que as respostas à pandemia tenham em conta os seus diferentes efeitos em homens e mulheres, com prejuízo agravado para estas.
Recordando que, "globalmente, as mulheres são mais vulneráveis a choques económicos decorrentes de crises como a da pandemia de covid-19", Isabelle Durant e Pamela Coke-Hamilton, da UNCTAD, preveem que "as mulheres tenham maior probabilidade do que os homens de perder os seus empregos", desde logo porque representam a maioria dos trabalhadores "a tempo parcial".
Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres representam menos de 40% do emprego total, mas quase 57% do trabalho a tempo parcial.
Elas são também a maioria no chamado trabalho informal, não registado e que não será protegido por qualquer compensação entretanto adotada pelos governos para atenuar o impacto da pandemia.
Seguros de saúde, pensões, subsídio de desemprego e baixas por maternidade ou doença são disposições a que as trabalhadoras informais não têm direito.
Além disso, "as mulheres empreendedoras são frequentemente discriminadas no acesso ao crédito" e "o crédito terá primordial importância para a sobrevivência das empresas", antecipam as especialistas do órgão criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1964, com sede em Genebra, Suíça, que busca promover a integração dos países em desenvolvimento na economia mundial.
Em paralelo, assinalam, o trabalho não pago aumenta em tempo de confinamento em casa e escolas fechadas e esse é sobretudo feito por mulheres.
"As mulheres continuam a ser responsáveis pela maior parte das tarefas domésticas e de cuidado", observam.
"Algumas mulheres poderão ser forçadas a tomar a decisão difícil de deixar o mercado de trabalho ou optar por empregos a tempo parcial quando o equilibrismo entre o trabalho e o cuidado à família se tornar insustentável", alertam.
Aos governos, a UNCTAD recomenda que as respostas aos efeitos económicos e sociais da pandemia tenham em consideração o progresso obtido no domínio da igualdade de género, nas últimas décadas.
"Temos de reter a participação produtiva das mulheres na força de trabalho, o que não foi feito no rescaldo da crise financeira global de 2008", recordam as duas responsáveis.
"As medidas de apoio em resposta à covid-19 devem ir além dos trabalhadores formais e incluir os trabalhadores informais, a tempo parcial e sazonais, a maioria dos quais são mulheres", recomendam, citando o caso de Itália, que já o está a fazer.
"O apoio financeiro do setor privado e o acesso ao crédito devem ser igualmente disponibilizados a mulheres e homens", acrescentam, deixando uma nota de otimismo: "a pandemia de coronavírus representa uma oportunidade para adotar mudanças sistémicas que possam proteger as mulheres de sofrerem o impacto mais pesado de choques como este no futuro".
O novo coronavírus, responsável pela pandemia de covid-19, já infetou um milhão de pessoas em todo o mundo e provocou 50 mil mortos.