ONG acusa Bolsonaro de sabotar medidas de combate à pandemia
A Human Rights Watch acusou hoje o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, de agir de forma irresponsável e sabotar as medidas para conter a transmissão da covid-19 no país, colocando a população em grave perigo.
© Lusa
Mundo Covid-19
Num comunicado às redações, a organização não-governamental internacional afirma que Jair Bolsonaro coloca "os brasileiros em grave perigo ao incitá-los a não seguir o distanciamento social e outras medidas" para conter a transmissão da covid-19, implementadas por governadores no país inteiro e recomendadas pelo próprio Ministério da Saúde.
"Age de forma irresponsável disseminando informações equivocadas sobre a pandemia", acusa a Human Rights Watch (HRW), denunciando que o líder do Governo "tem sabotado os esforços dos governadores e do seu próprio Ministério da Saúde".
Citado no comunicado, José Miguel Vivanco, diretor da Divisão das Américas da HRW, afirma que "para evitar mortes" causadas pelo novo coronavírus, "os líderes devem garantir que as pessoas tenham acesso a informações precisas, baseadas em evidências, e essenciais para proteger a sua saúde". Porém, acrescenta: "o Presidente Bolsonaro está a fazer tudo, menos isso".
A ONG exemplifica com vários decretos publicados por Jair Bolsonaro retirando competências aos estados para restringir a circulação de pessoas e isentando as igrejas e casas de lotaria de seguirem as medidas impostas pelos estados e pelos municípios.
Os decretos foram suspensos pelo Supremo Tribunal Federal, que proibiu o Governo de adotar medidas contra o distanciamento social.
Já antes, o presidente do Brasil tinha emitido decretos limitando "o acesso a informações públicas" desrespeitando o "direito à informação", acusa ainda a organização.
Apesar do risco "potencialmente fatal para a saúde dos brasileiros", desde o início da crise, Bolsonaro "tem minimizado a gravidade da covid-19, chamando-a de 'gripezinha' ou 'um resfriado', e de uma 'fantasia' criada pela imprensa", refere-se no comunicado.
O Presidente "rotulou as medidas preventivas como "histéricas" e repetidamente requereu aos governadores estaduais que suspendessem as restrições de distanciamento social aplicadas para impedir a propagação da doença", pode ler-se no documento.
A recusa em fechar escolas e o incentivo à participação popular numa manifestação pró-Governo (em 15 de março) são alguns dos exemplos apontados pela HRW para sustentar que o Presidente tem "repetidamente desconsiderado as recomendações de distanciamento social" e incentivado a população a fazer o mesmo.
A ONG acusa ainda Bolsonaro de veicular "informações falsas" sobre a alegada escassez de alimento e produtos essenciais (desmentida pela ministra da agricultura do país) e de acusar as autoridades de São Paulo de "exagerar no número de mortes registadas", sem fornecer dados exatos sobre os impactos da pandemia.
O Brasil regista 1.056 mortos e 19.638 infetados pelo novo coronavírus, segundo dados do Ministério da Saúde do país.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou a morte a mais de 100 mil pessoas e infetou mais de 1,6 milhões em 193 países e territórios.
Dos casos de infeção, mais de 335 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
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