"Essa fatura deve ser enviada aos governadores. Pergunte ao senhor João Doria [governador do estado de São Paulo], ao senhor [Bruno] Covas [prefeito de câmara da cidade de São Paulo] porque eles adotaram medidas restritivas e as pessoas continuam a morrer", disse Bolsonaro na porta do Palácio da Alvorada, sua residência oficial em Brasília.
"A minha opinião não vale, o que vale são os decretos de governadores e prefeitos. Não adianta a imprensa [meios de comunicação] colocar na minha conta essas questões, não adianta 'botar' a culpa em mim", acrescentou.
O chefe de Estado brasileiro estava acompanhado de vários deputados (membros da câmara baixa do Congresso) que são seus aliados e também subscreveram as críticas feitas aos governos regionais.
Questionado pelos jornalistas sobre qual é, então, a sua responsabilidade na crise provocada pela pandemia, o chefe de Estado brasileiro aparentou nervosismo e declarou: "A pergunta é tão idiota que não vou lhe responder".
Após os ataques feitos por Bolsonaro, o governador de São Paulo, João Doria, fez convidou o Presidente a "sair da bolha" para visitar hospitais em colapso e ver "pessoas moribundas".
"Pare Presidente com essa política de perversidade, pare de dificultar para quem está lutando para salvar vidas, pare de fazer política no meio de um país que lamenta mortes", disse Doria.
Bolsonaro criticou as medidas de isolamento social desde que os primeiros decretos foram emitidos por prefeitos e governadores, alegando que a covid-19 é semelhante a uma gripe e que os brasileiros precisavam de voltar ao trabalho para evitar um colapso económico.
Dois meses após o registo do primeiro caso no Brasil, em 26 de fevereiro, o país tem 5.017 mortes e 71.886 casos confirmados, de acordo com o Ministério da Saúde.
A região mais atingida pela pandemia no Brasil é o estado de São Paulo, com 2.049 mortes e 24.041 infetados.
Segundo as estimativas do governo regional de São Paulo, o número de mortes por coronavírus seria dez vezes maior na região sem as medidas de isolamento promovidas nas últimas semanas.
Apesar dessas ações, os sistemas de saúde pública de alguns estados brasileiros como Amazonas, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e até mesmo de São Paulo, estão perto do colapso.
Nas declarações que deu na manhã de hoje, o Presidente brasileiro também disse que foi mal-interpretado no dia anterior, quando relativizou o aumento no número de mortes causadas pela covid-19.
"E daí? Lamento, mas quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagres", disse na terça-feira o chefe de Estado brasileiro, fazendo um trocadilho com o seu nome Jair Messias Bolsonaro.
Hoje o Presidente culpou jornalistas alegando que a sua frase foi retirada de contexto e afirmou que "nunca ninguém negou que haveria mortes".
"As mortes de hoje, a princípio, foram de pessoas infetadas há duas semanas. É o que eu digo para vocês: o vírus vai atingir 70% da população. Infelizmente é a realidade. Nunca ninguém negou que haveria mortes", explicou.
Bolsonaro atacou especificamente os jornais Folha de São Paulo e O Globo, dois dos mais importantes e influentes do país.
"Não adianta a imprensa colocar em minhas costas questões que não me correspondem. Não adianta a Folha de São Paulo, O Globo, que fez uma manchete mentirosa e tendenciosa", concluiu.
No plano global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 217 mil mortos e infetou mais de 3,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios.