"Para avançar, este país tem de reconhecer todos os trabalhadores como essenciais, independentemente do estatuto legal, e responder às nossas necessidades, em especial durante uma emergência de saúde e económica", declarou Angelica Salas, diretora da Coligação pelos Direitos Humanos dos Imigrantes em Los Angeles (CHIRLA), numa sessão que assinalou o 1.º de maio com transmissão 'online'.
"Numa altura em que o país tenta lidar com a covid-19, os emigrantes trabalhadores na saúde, serviços, transportes, armazéns, supermercados e educação mantêm a nação a funcionar, mesmo com o congresso erradamente a deixá-los de fora de uma medida crucial de estímulo", afirmou a responsável, referindo-se à ajuda monetária de até 1.200 dólares (cerca de mil euros) que o congresso aprovou apenas para cidadãos e residentes permanentes.
Os emigrantes ilegais ficaram de fora das ajudas e não têm direito a subsídio de desemprego, o que levou o governador da Califórnia, Gavin Newsom, a criar um fundo de assistência com 125 milhões de dólares para ajudar os que estão em situação ilegal, com cheques de 500 dólares por pessoa e um limite de 1.000 por lar.
No entanto, esta ajuda será direcionada para 150 mil emigrantes, uma fração do número de pessoas que se estima estarem ilegalmente na Califórnia, cerca de 2,5 milhões. O governador calcula que 10% de toda a força laboral do Estado esteja ilegal.
Entre eles há também trabalhadores portugueses, embora não exista uma estimativa oficial de quantos, visto que é uma proporção pequena em comparação com outros grupos de emigrantes.
A maioria da emigração portuguesa na Califórnia tem origem nos Açores e está, em grande parte, legalizada.
"Não recebemos nenhum pedido de apoio por parte da comunidade açoriana da Califórnia", disse à Lusa o diretor regional das comunidades açorianas, Paulo Teves.
Apesar disso, as dificuldades causadas pela pandemia de covid-19 puseram em foco a situação de portugueses que emigraram para a Califórnia à procura de trabalho.
"Temos muitos ilegais, eu não tinha ideia", disse à Lusa Bela Ferreira, diretora executiva da POSSO - Organização Portuguesa para Serviços Sociais e Oportunidades, que auxilia a comunidade luso-americana em São José.
"São rapazes novos que não têm trabalho lá [em Portugal] e vêm para cá. Alguns vão para as leitarias, mas a maioria vai para a construção", explicou.
Segundo a responsável, a POSSO tem recebido muitos contactos de portugueses em situação ilegal que querem saber se têm alguns direitos e como podem aceder ao estímulo criado pelo governador.
A associação está a oferecer-lhes refeições grátis e um "saco castanho" às quartas-feiras, com bens essenciais.
"Mas não podemos ajudar financeiramente, nem com rendas nem eletricidade", explicou Bela Ferreira, acrescentando: "É muito complicado".
Além de apoios monetários, as organizações que participaram nas comemorações do 1.º de maio pediram também uma reforma abrangente das leis de emigração e a proteção dos 'dreamers', que foram levados para os Estados Unidos ilegalmente em crianças e cujo estatuto DACA (Ação Diferida para Imigração Infantil) será decidido pelo Supremo Tribunal Federal.
"Pedimos que todos os imigrantes sejam tratados com igualdade", declarou David Huerta, presidente do sindicato SEIU-USWW, que representa 45 mil porteiros, seguranças e trabalhadores de aeroporto na Califórnia.
Algumas das intervenções tiveram também teor político.
"Vamos todos trabalhar juntos para garantir que eliminamos o vírus que está na Casa Branca em novembro deste ano", disse Kent Wong, diretor do Centro Laboral da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), referindo-se às eleições presidenciais, em que Donald Trump é candidato a uma segundo mandato, concorrendo contra o democrata Joe Biden.
Doug Kaufmann, da Answer Coalition, pediu a condenação do governo federal por não ter fornecido o equipamento de proteção individual necessário aos profissionais de saúde e técnicos de laboratório que estão na linha da frente da luta contra a covid-19.
"Os trabalhadores que atravessaram a fronteira e foram colocados em gaiolas com os filhos devem ser libertados", afirmou.
"A nossa solidariedade deve ter caráter internacional", vincou.
O governador Gavin Newsom estima que os trabalhadores ilegais tenham pago 2,5 mil milhões de dólares em impostos no ano passado.
A pandemia de covid-19 já provocou 52.197 infetados e 2.134 mortos na Califórnia.
O Fundo Monetário Internacional avisou que a economia mundial poderá cair 3% em 2020.