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OIM avisa para graves consequências na mobilidade de pessoas pós-Covid-19

O diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), António Vitorino, alertou hoje que o novo coronavírus e todas as preocupações associadas à saúde pública poderão desencadear no futuro graves limites à mobilidade das pessoas a nível mundial.

OIM avisa para graves consequências na mobilidade de pessoas pós-Covid-19
Notícias ao Minuto

14:30 - 07/05/20 por Lusa

Mundo Pandemia da Covid-19

"Os ataques terroristas do 11 de setembro [de 2001 nos Estados Unidos] tiveram um grande impacto na mobilidade humana, e acredito que esta pandemia terá um impacto equivalente, se não maior, na forma como a mobilidade será encarada no futuro. Está claro que a saúde é a nova prioridade", declarou o representante, numa conferência de imprensa 'online' realizada a partir de Genebra (Suíça).

Até ao momento, segundo apontou António Vitorino, cerca de 30 países avançaram com sistemas de rastreamento através de aplicações de telemóveis que "levantam questões sobre (o direito à) privacidade, ao anonimato ou à proporcionalidade do tipo de monitorização realizada".

Uma das preocupações da OIM é a possibilidade de os países avançarem com a imposição de condições sanitárias e condicionarem a entrada nos respetivos territórios em função dessas regras, o que poderá levar à exclusão, segundo a organização da ONU, de alguns países ou indivíduos.

"Ao tentar resolver um problema será criado outro problema, o aprofundamento da desigualdade", advertiu a OIM, lembrando que já existem medidas em discussão, como controlos sanitários de acesso ou certificados de imunidade, e que estas "terão um grande impacto" na abertura do mundo.

"Um sistema único não pode ser adotado sob a pressão da pandemia porque há uma urgência se isso significar sacrificar valores fundamentais", advertiu Vitorino.

O diretor-geral da OIM também indicou que "em alguns países" a atual pandemia "está a ser usada para estigmatizar os migrantes como portadores do vírus".

E contrapôs: "A verdade é que os migrantes e pessoas provenientes da migração estão em muitos locais da linha da frente do combate à doença".

Em países como o Reino Unido e os Estados Unidos, as estimativas indicam que os migrantes representam entre 30% a 40% dos trabalhadores da área da saúde, enquanto na Suíça rondam os 50%.

A par do setor da saúde, muitos migrantes também estão a ser elementos fundamentais em outras áreas consideradas como essenciais durante a atual crise, como entregas ao domicílio, transportes ou supermercados, referiu a OIM.

"Estávamos em casa por medo do vírus e eles estavam no terreno, a trabalhar em benefício de toda a comunidade", enfatizou António Vitorino.

O diretor-geral da OIM frisou, no entanto, que os migrantes também são pessoas vulneráveis, apelando a todos os países que garantam que estas comunidades tenham acesso aos serviços nacionais de saúde.

"Não é apenas uma questão de direitos fundamentais, é uma questão de saúde pública. O acesso à saúde dos migrantes é do interesse de toda a comunidade", afirmou o representante, mencionando a situação ocorrida em Singapura.

Inicialmente, o país foi visto pela comunidade internacional como um exemplo no combate à doença covid-19, mas a situação mudaria quando foram detetados muitos casos de infeção em trabalhadores migrantes que viviam em dormitórios em condições precárias e que tinham sido excluídos da campanha nacional de testes de diagnóstico.

A OIM também manifestou preocupação com a situação dos muitos milhares de migrantes que se encontram nomeadamente no Sudeste Asiático, na África Oriental e na América Latina, após o encerramento de fronteiras e a imposição de restrições de viagem.

As condições de vida precárias nas favelas de países como Brasil, México ou Equador, locais que também acolhem um grande número de migrantes, e nos centros de detenção e deportação são outros focos de preocupação para a OIM.

A organização também pediu que as comunidades de migrantes sejam tidas em conta nas medidas de recuperação económica pós-pandemia, lembrando que muitas vezes estas pessoas não têm acesso às redes de ajuda pública ou familiar e são frequentemente as primeiras a ficar no desemprego.

Tal situação, segundo alertou a OIM, irá afetar também os países de origem destes migrantes.

O Banco Mundial estima que as remessas dos migrantes para os países africanos irão sofrer uma redução na ordem dos 30%.

As remessas representam até 15% do produto interno bruto (PIB) em alguns países.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias France Presse (AFP), a pandemia de covid-19 já provocou mais de 263 mil mortos e infetou cerca de 3,7 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

Mais de um 1,1 milhões de doentes foram considerados curados.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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