Em entrevista à agência Lusa, o especialista principal do ECDC para resposta e operações de emergência, Sergio Brusin, indica que "o perigo [de uma segunda vaga] existe" e, embora "não seja possível dizer com certeza que haverá", é "muito provável que aconteça".
"Vimos em situações anteriores, com outras pandemias, que se registaram segundas vagas e temos de considerar que este é um vírus completamente novo", argumenta o responsável, que é um dos peritos mais experientes do ECDC para este tipo de surtos.
Questionado pela Lusa se, nessa segunda vaga, irá verificar-se um número inferior de casos ou de mortos, Sergio Brusin afasta esta possibilidade, devido à especificidade do novo coronavírus.
"Não penso que a mortalidade ou a mobilidade da doença mostre qualquer tipo de mudança, pelo que se houver uma segunda vaga, os números de mortes e de pessoas em cuidados intensivos será mais ou menos na mesma proporção do que temos agora, segundo o que conseguimos perceber", sustenta.
Segundo o especialista, "esta doença é particularmente mortal para pessoas acima dos 75 anos", sendo também mais grave para "pessoas com outras doenças associadas como complicações cardíacas e cancro".
E pode, ainda, afetar severamente outras camadas da população.
"Ninguém é completamente imune: as pessoas mais velhas estão particularmente em risco, mas todos, em menores percentagens, podem ter doenças graves", alerta o especialista, falando em casos de crianças e de bebés com sérias complicações por causa da covid-19.
De acordo com Sergio Brusin, essa eventual segunda vaga "não irá apanhar [os países] tão mal preparados como aconteceu da primeira vez", dado que "toda a Europa está numa situação muito melhor do que estava em fevereiro".
"O que irá mudar é que os serviços de saúde estarão muito melhor preparados para receber pessoas, que não haverá tanta falta de equipamentos de proteção, que haverá capacidade para testar mais rapidamente", elenca o responsável.
Por isso, "seremos capazes de conter muito melhor", acrescenta.
Sergio Brusin mostra-se, assim, "prudentemente otimista" de que, nessa eventual segunda vaga, a Europa mostre que "sabe exatamente o que fazer", adotando de imediato medidas como distanciamento social e físico e apostando na rápida deteção e na vigilância dos casos.
"A grande dificuldade será a economia e a paciência das pessoas [porque] sabemos que as pessoas sofreram bastante com o confinamento, tanto em termos económicos como sociais, e a questão é quanto mais tempo é que elas aguentam o confinamento", adianta o especialista.
A Europa é a região mais afetada do mundo pela pandemia, tendo já ultrapassado as barreiras das 150 mil mortes em milhões de casos.
Para combater a pandemia, os governos mandaram milhões de pessoas para casa, encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia.
"Até agora, a maioria das pessoas tem reagido de forma bastante positiva", conclui Sergio Brusin na entrevista à Lusa.
Sediado na Suécia, o ECDC é um organismo da União Europeia que ajuda os países a preparar a resposta a surtos de doenças.