O Supremo Tribunal emitiu uma decisão na quinta-feira confirmando uma ordem da juíza distrital dos EUA Paula Xinis que pedia ao governo para "facilitar" o regresso de Kilmar Abrego Garcia aos Estados Unidos.
Horas depois dessa decisão, Xinis insistiu no seu pedido, solicitando aos advogados do Departamento de Justiça que lhe fornecessem documentos sobre o estatuto legal de Garcia em El Salvador e as medidas que foram tomadas para "facilitar" o seu regresso aos EUA até às 09h00 (13h00 em Portugal) de hoje.
A administração Trump não cumpriu o prazo e, durante uma audiência na tarde de sexta-feira em Greenbelt, Maryland, recusou-se a dar a Xinis qualquer informação sobre o paradeiro de Garcia.
"Não lhe estou a pedir segredos de Estado, estou a perguntar-lhe onde está um homem que foi ilegal e injustamente deportado deste país", repreendeu o juiz ao advogado do executivo, Drew Ensign, segundo a imprensa norte-americana.
Drew Ensign, procurador-geral adjunto, disse que o Governo norte-americano não tem provas que contradigam a convicção de que Abrego Garcia ainda está em El Salvador.
"Onde é que ele está e sob que autoridade?" perguntou Xinis.
A juiza questionou repetidamente Ensign sobre o que foi feito, perguntando de forma incisiva se "fizeram alguma coisa", ao que Ensign disse que não tinha conhecimento pessoal do que tinha sido feito.
"Então isso significa que não fizeram nada", afirmou a juíza, acrescentando mais tarde que "apesar da clara diretiva deste tribunal", os oficiais do Governo "não fizeram nada para facilitar o regresso de Abrego Garcia".
Após várias trocas de palavras em que o advogado se recusou a dar mais pormenores sobre o caso, a juíza ordenou ao Governo que lhe desse um relatório diário sobre o salvadorenho e os esforços que estão a ser feitos para o trazer de volta aos EUA, onde reside há mais de uma década com a mulher e os três filhos.
O caso de Abrego García tem sido apontado por políticos e organizações para criticar a campanha de Trump de deportações em massa.
O salvadorenho de 24 anos tinha estatuto legal nos EUA que o protegia da deportação e é casado com uma cidadã americana.
Abrego Garcia, que residia no estado de Maryland, fugiu de El Salvador devido a extorsões e ameaças que ele e a sua família receberam do gangue Barrio 18, de acordo com documentos judiciais apresentados pela sua defesa.
A decisão de ontem do Supremo Tribunal, redigida por três dos seus juízes liberais, critica fortemente os argumentos judiciais do governo para justificar a sua deportação e detenção.
As autoridades norte-americanas consideraram a deportação de Ábrego García um "erro administrativo", mas argumentam que não têm poder para o devolver aos Estados Unidos porque está agora sob custódia de um governo estrangeiro.
A administração Trump argumenta ainda que Abrego García, que não tem registo criminal nos EUA que o ligue ao crime organizado, é membro do gangue MS-13, que foi recentemente denominado como uma organização terrorista global numa ordem executiva, e não deve ser devolvido ao país.
O governo dos Estados Unidos chegou a um acordo com o Presidente de El Salvador, Nayib Bukele, para poder enviar os imigrantes detidos nos Estados Unidos para o CECOT, uma prisão famosa por alegadas violações dos direitos humanos.
Como parte do acordo, cujos pormenores específicos não são conhecidos, Washington pagará a El Salvador 6 milhões de dólares por ano para apoiar o sistema prisional.
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