Horas antes, o mayor democrata Eric Garcetti tinha-se ajoelhado no meio dos manifestantes na baixa de Los Angeles, à porta de uma esquadra, em solidariedade com o movimento que exige a detenção e acusação de todos os polícias envolvidos na morte de Floyd a 25 de maio.
Mais de três mil pessoas foram presas em Los Angeles desde sexta-feira, quando começaram as manifestações e depois de protestos que resultaram em vandalismo, pilhagens e confrontos com as forças policiais. A Guarda Nacional patrulha várias zonas da cidade desde domingo e há recolhimento obrigatório para todos os cidadãos.
"O vídeo do assassinato brutal de George Floyd mostrou a todos o racismo e a violência policial que os negros vêm sofrendo há décadas", disse à Lusa a brasileira Erika Monteiro, residente na cidade. "O descaso das autoridades gerou muita dor e um sentimento de revolta", afirmou a responsável, que trabalha no setor da aviação e mora nos Estados Unidos há mais de uma década.
Monteiro notou que os protestos contra o racismo foram pacíficos em anos anteriores e sublinhou a iniciativa do jogador de futebol americano Colin Kaepernick, que se ajoelhou durante o hino nacional na temporada de 2016/2017. Desde então, nunca mais conseguiu jogar na liga NFL.
"O que acontece é que nada mudou todos esses anos e a morte absurda do George foi só o rastilho", considerou Monteiro, acrescentando que "é inacreditável que passados oito dias de muitos protestos os outros três ex-polícias ainda estão soltos".
Com um cartaz de apoio ao movimento "Black Lives Matter" no seu carro, Erika Monteiro sublinhou que "estão a acontecer muitos protestos pacíficos em todo o país" mas que a situação causada pela pandemia de covid-19 exacerbou os ânimos. "Estamos a entrar no terceiro mês de isolamento social, a tensão vem aumentando e há grupos de pessoas que não estão envolvidas nos protestos que estão a organizar-se para saquear lojas".
Esta segunda-feira, o chefe da polícia de Los Angeles, Michel Moore, tinha avisado que oportunistas em todo o Sul da Califórnia estavam a "capitalizar" na morte de George Floyd e a aproveitar para saquear lojas. "Não tivemos protestos esta noite, tivemos atos criminosos", afirmou, citado pelo LA Times.
Durante terça-feira, as manifestações de milhares de pessoas foram pacíficas e os protestos chegaram a zonas onde ainda não tinham aparecido, como o vale de São Fernando, a norte de Hollywood, sem incidentes.
"Gostaria que os protestos continuassem pacificamente até que os polícias fossem presos", afirmou Erika Monteiro, que pretende juntar-se a algumas das iniciativas previstas na sua zona.
"É preciso que os brancos ajudem na luta dos negros para acabar com algo que eles mesmo criaram", considerou. "Tudo isso que está a acontecer é muito importante, a reforma da polícia e do sistema judiciário é muito importante para que exista justiça e liberdade para os negros".
O presidente Donald Trump, numa comunicação ao país, apelou aos governadores dos estados afetados que controlem a violência e aventou a possibilidade de convocar o exército para repôr a normalidade.
George Floyd, um afro-americano de 46 anos, morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de Floyd dizer que não conseguia respirar.
Desde a divulgação das imagens nas redes sociais, têm-se sucedido os protestos contra a violência policial e o racismo em dezenas de cidades norte-americanas, incluindo Minneapolis, Los Angeles, Washington, D.C., Nova Iorque, Chicago, Atlanta e Salt Lake City.
Os quatro polícias envolvidos no incidente foram despedidos, e o agente Derek Chauvin, que colocou o joelho no pescoço de Floyd, foi detido, acusado de assassínio em terceiro grau e de homicídio involuntário.
A morte de Floyd ocorreu durante a sua detenção por suspeita de ter usado uma nota falsa de 20 dólares (18 euros) numa loja.