Mais de dez mil pessoas detidas nos protestos contra o racismo
Mais de 10 mil pessoas foram detidas nos EUA em protestos contra o racismo e a brutalidade policial na sequência da morte de George Floyd, segundo um registo da agência Associated Press com base em dados recolhidos no país.
© Getty Images
Mundo EUA
A contagem aumenta várias centenas todos os dias, à medida que mais manifestantes vão para as ruas e se confrontam com uma presença policial mais pesada e um recolher obrigatório que aumenta as razões da polícia para fazer detenções.
As manifestações nos Estados Unidos começaram depois da divulgação de imagens nas redes sociais que mostram a morte de um afro-americano causada por um polícia branco de Minneapolis (nos Estados Unidos), que pressionou o joelho contra o seu pescoço enquanto o detido estava algemado no chão e gritava que não conseguia respirar.
Los Angeles contabiliza mais de um quarto das detenções nos Estados Unidos, seguindo-se Nova Iorque, Dallas e Filadélfia.
Muitas das detenções foram causadas por ofensas menores, como violações do recolher obrigatório e falta de dispersão, mas centenas de pessoas foram presas por roubo e pilhagem.
Neste momento, não se sabe quantas das pessoas detidas foram presas, já que muitas prisões do país estão a lidar com surtos de coronavírus e os manifestantes são frequentemente transportados para outros locais.
A noite passada foi novamente de protestos, a maioria dos quais pacíficos, mas com tumultos ocasionais em cidades como Nova Iorque, onde a polícia fez detenções em várias áreas, uma hora depois do início do recolher obrigatório e numa manifestação realizada em frente da residência oficial do presidente da câmara, Bill de Blasio.
Na última noite, a polícia de Nova Iorque decidiu dar aos cidadãos uma "hora extra" depois do recolher obrigatório, que começou às 20:00 locais, mas o dispersar que se seguiu foi mais violento.
O chefe do departamento de polícia, Terence A. Monahan, admitiu que a abordagem foi mais agressiva na rápida dispersão de grupos de manifestantes.
"A tolerância é suficiente", disse, lembrando que nas duas noites anteriores a cidade viveu um caos de distúrbios e pilhagens.
As cenas mais complicadas foram gravadas em Brooklyn, nos arredores de Cadman Square, Fulton e Borough Hall, onde a polícia usou cassetetes, balas de borracha e gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes e deteve várias pessoas depois do toque de recolher.
Enquanto isso, em Nova Orleães, a polícia lançou gás lacrimogéneo contra os manifestantes quando estes tentavam atravessar a Crescent City Connection, uma ponte sobre o rio Mississippi.
Na capital, Washington, ainda havia centenas de manifestantes nas proximidades da Casa Branca após o toque de recolher, às 23:00 locais (04:00 em Lisboa), mas não se registaram confrontos.
Por todo o lado, os manifestantes saudaram o reforço das acusações contra o polícia Derek Chauvin, que colocou o joelho no pescoço de Floyd, e as acusações formais aos outros três agentes que estavam no local, mas defenderam querer ir mais longe: acabar com o racismo sistémico nos Estados Unidos.
O procurador-geral do estado do Minnesota, Keith Ellison, anunciou na quarta-feira ter decidido elevar a acusação contra Chauvin para homicídio em segundo grau e acusar formalmente os outros três por ajudar e instigar um assassínio.
A morte de Floyd provocou uma onda de protestos e distúrbios em todo o país, contra os quais o Presidente, Donald Trump, prometeu mão de ferro e ameaçou com uma resposta militar.
A sua administração foi questionada por vários ex-Presidentes, como George W. Bush, que é do Partido Republicano como Trump, e que, em comunicado, assegurou que tanto ele próprio como a sua mulher, Laura, ficaram "angustiados com a asfixia brutal de George Floyd", mas também "perturbados pela injustiça e pelo medo que asfixiam" o país.
A última crítica foi feita pelo ex-chefe do Pentágono, James Mattis, que foi secretário de Estado da Defesa do Governo de Trump.
Mattis acusou o Presidente de "tentar dividir" o país e abusar da sua autoridade, "militarizando a resposta aos protestos" pela violência policial contra os negros.
Num comunicado publicado na revista The Atlantic, Mattis criticou duramente Trump, um gesto extraordinário já que, até agora, o ex-responsável da Defesa nunca tinha falado sobre as suas diferenças com o Presidente exceto para reconhecer que discordavam sobre o conflito na Síria.
"Donald Trump é o primeiro Presidente que nunca tentou unir o povo americano e nem sequer finge tentar. Em vez disso, está a tentar dividir-nos. Estamos a testemunhar as consequências de três anos sem uma liderança madura", escreveu.
O desacordo com os responsáveis militares inclui também o atual secretário de Defesa, Mark Esper, que rejeitou o uso de tropas ativas para conter a onda de protestos num sinal claro de desacordo com Trump.
"A opção de usar militares ativas para garantir a lei deve ser usada apenas como último recurso e apenas nas situações mais urgentes e extremas", disse Esper numa conferência de imprensa do Pentágono.
Também o ex-Presidente Barack Obama (2009-2017) criticou Trump na quarta-feira, embora indiretamente, incentivando os jovens que lideraram os protestos a continuar a tentar produzir mudanças.
Numa palestra organizada pela sua fundação, o primeiro Presidente afro-americano dos Estados Unidos garantiu que não concorda com as comparações entre os protestos atuais e os tumultos registados após o assassínio de Martin Luther King, em 1968, porque "há algo diferente" no movimento atual.
"Quando se olha para os protestos (de agora) vê-se muito mais diversidade da América nas ruas, num protesto pacífico para o qual se sentem impelidos. Isso não existia nos anos 1960, essa ampla união", sublinhou Obama.
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