"Há um acordo" com os outros sócios da Área 1 (petrolíferas internacionais, lideradas pela Total) para que financiem a quota de 15% da ENH "na fase de construção", explicou o ministro dos Recursos Minerais e Energia moçambicano, Max Tonela, numa visita às obras na península de Afungi, na sexta-feira.
"Mas como empresa, a ENH tem o objetivo de maximizar o retorno do seu investimento e, nessa perspetiva, está a trabalhar com aconselhamento financeiro ( ) na perspetiva de encontrar alternativas de financiamento que permitam custos mais baixos da operação", acrescentou, sem detalhar números.
"Este exercício está ainda em curso", referiu.
"Não há riscos para o projeto" devido a esta necessidade de a ENH procurar empréstimos para ter lugar na sociedade, destacou Max Tonela: "Há um exercício de refinanciamento da sua participação no projeto, com custos mais baixos".
A agência financeira Bloomberg anunciou na sexta-feira que o aconselhamento financeiro está a ser prestado pelo banco Societe Generale por via de já prestar esse serviço ao megaprojeto Mozambique LNG - designação do consórcio da Área 1.
Em novembro do último ano, a captação de cerca de 1.500 milhões de dólares (1.300 milhões de euros) para a participação da ENH na Área 1 foi o projeto mais caro apresentado num fórum de investimento organizado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) em Joanesburgo, África do Sul.
Foi a primeira apresentação do Estado moçambicano perante a banca e investidores internacionais após a reestruturação da dívida soberana, acordada com credores em outubro de 2019, e depois de a agência de notação financeira Fitch ter retirado o país da lista de 'default' (incumprimento) na sequência do caso das dívidas ocultas do Estado - no valor de cerca de 2.000 milhões de euros e ainda nas mãos da justiça.
Akinwumi Adesina, presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) disse na altura que apoiar a participação da ENH na Área 1 representa uma oportunidade de investimento "fantástica", num projeto "bem estruturado".
Questionado na sexta-feira, em Afungi, sobre se o endividamento da ENH e a queda na procura mundial podem engolir os benefícios que o Estado terá com o megaprojeto, Max Tonela reafirmou que o "projeto é viável" e que "todas as partes terão benefícios".
Os modelos do projeto da Área 1 apontam para ganhos globais, ao longo dos 25 anos, da ordem dos 61.000 milhões de dólares (54.500 milhões de euros) e "o Estado moçambicano, por via de impostos, partilha de lucro e participação da ENH vai ficar com pouco mais de 50%, cerca de 31.000 milhões de dólares (27.700 milhões de euros)", referiu.
Por outro lado, as perspetivas do mercado mundial de produtos energéticos "indicam que a médio, longo prazo, vai haver um aumento de procura" e que, no caso, o gás natural liquefeito "terá uma taxa de crescimento superior aos demais produtos".
Tonela alinha-se com a tendência de que a substituição de fontes "a favor de energia mais limpa" vai acabar por favorecer o gás em detrimento de outras origens como o carvão - que tem sido um dos principais produtos de exportação de Moçambique.
O projeto da Área 1 da bacia do Rovuma, ao largo da costa norte de Moçambique, deverá arrancar em 2024 e atingir a plena produção (13,12 milhões de toneladas/ano de gás natural liquefeito) em 2025.