A Etiópia anunciou na sexta-feira que vai começar a encher o reservatório da barragem em julho, apesar de a última ronda de conversações com o Egito e o Sudão não ter conseguido, na semana passada, chegar a um acordo sobre a forma como a barragem vai ser cheia e explorada.
Nesse mesmo dia, e por carta, o Egito solicitou formalmente ao Conselho de Segurança que interviesse nesta questão.
"A responsabilidade do Conselho de Segurança é enfrentar uma ameaça pertinente à paz e à segurança internacionais, e certamente que as ações unilaterais da Etiópia a este respeito constituiriam uma tal ameaça", disse Sameh Shukry, numa entrevista à agência AP.
Encher a Grande Barragem do Renascimento, na Etiópia, traria potencialmente para um momento crítico o litígio de anos entre o Egito, o Sudão e a Etiópia sobre este megaprojeto.
A Etiópia afirmou que a eletricidade que será produzida pela barragem é uma linha de salvação crucial para tirar milhões de pessoas da pobreza.
O Egito, que depende do Nilo para mais de 90% do seu abastecimento de água, receia um impacto devastador se a barragem for explorada sem ter em conta as suas necessidades.
Por seu lado, o Sudão, que também depende largamente do Nilo em termos de água, tem-se mostrado dividido na disputa.
Os Estados Unidos tentaram intermediar um acordo no início deste ano, mas a Etiópia não participou na reunião de assinatura, em fevereiro, e acusou a administração Trump de estar do lado do Egito.
Na semana passada, o Conselho de Segurança Nacional norte-americano escreveu na rede social Twitter que "257 milhões de pessoas na África Oriental confiam na Etiópia para mostrar uma liderança forte, o que significa fazer um acordo justo".
Sameh Shukry avisou que encher o reservatório sem um acordo violaria a declaração de princípios de 2015 que rege as suas conversações e excluiria um regresso às negociações.
"Não procuramos qualquer ação coerciva por parte do Conselho de Segurança", afirmou.
Numa carta de três páginas dirigida ao Conselho, o Egito pediu-lhe que convocasse de novo a Etiópia para conversações com vista a uma "solução pacífica e equilibrada" e que a instasse a abster-se de atos unilaterais, advertindo que o enchimento da barragem sem um acordo "constitui um perigo claro e atual para o Egito", com repercussões que "ameaçam a paz e a segurança internacionais".
Sameh Shukry sublinhou que o Governo egípcio não ameaçou com uma ação militar, mas antes procurou uma solução política.
"O Egito nunca, nunca nos últimos seis anos fez sequer uma referência indireta a essas possibilidades", disse sobre a ação militar.
Mas, acrescentou, se o Conselho de Segurança não conseguir trazer a Etiópia de volta às negociações e este país começar a encher a barragem, o Egito ver-se-á numa situação com a qual "terá de lidar".
"Quando esse tempo chegar, seremos muito claros e claros na ação que iremos empreender", ameaçou.
E apelou aos Estados Unidos e a outros membros do Conselho de Segurança, juntamente com as nações africanas, para que ajudem a chegar a um acordo que "tenha em conta os interesses dos três países".
Os pontos controversos nas conversações têm sido a quantidade de água que a Etiópia irá libertar a jusante da barragem, se ocorrer uma seca de vários anos, e a forma como a Etiópia, o Egito e o Sudão irão resolver quaisquer litígios futuros.