"O problema está na Área Metropolitana de Buenos Aires que está a contagiar o resto do país. Teremos de fazer um esforço enorme para isolar Buenos Aires, para protegermos a saúde dos cidadãos dessa área e para protegermos o resto do país", afirmou Alberto Fernández, a partir da residência oficial de Olivos e ao lado dos governadores da província de Buenos Aires e do Distrito Federal.
A Argentina, com 45 milhões de habitantes, regista 52.457 casos de infeção pelo novo coronavírus e 1.167 óbitos.
Com a extensão da quarentena, passam a ser 120 os dias de confinamento.
A Área Metropolitana de Buenos Aires, que concentra 97% dos contágios diários, inclui a capital, onde vivem três milhões de pessoas, e mais 10 municípios, onde habitam outras 13 milhões.
"Nos últimos dias, a velocidade de contágio nessa área aumentou 147% e o número de mortes cresceu 95%. Com essa aceleração, temos de parar o ritmo de contágios para garantirmos o atendimento a todos", explicou Fernández, quem deixou um apelo à população: "A liberdade se perde para sempre quando se morre. Por favor, cuidemos da vida. É o que lhes peço agora".
As medidas terão implicações nos transportes públicos e no comércio. A partir de quarta-feira, dia 01 de julho, só poderão circular os trabalhadores dos 24 setores considerados essenciais e só poderão abrir as lojas os setores essenciais, como supermercados e farmácias, exatamente como funcionou a quarentena quando foi implementada em 20 de março.
Apesar de o nível de ocupação das camas nas unidades de cuidados intensivos em Buenos Aires estar em 54,1%, o Governo vê o exemplo de saturação dos sistemas de saúde dos países vizinhos para projetar o que pode ocorrer durante as próximas semanas.
O chefe de Estado exibiu gráficos com os números de contágios e mortes nos países da região para exaltar os resultados da Argentina, que considerou melhores do que todos, menos os do Uruguai e Paraguai.
"Vejam como cresceram [os números] de Brasil, Peru e Chile. Pensem que o Brasil tem mais de 50 mil mortos e tem cinco vezes mais a quantidade de habitantes da Argentina. Se a Argentina tivesse seguido o ritmo do Brasil, hoje teria mais de 10 mil mortos", comparou.
"Vejam o Chile. Tem um terço dos habitantes da Argentina e tem 10 vezes mais mortos por milhão de habitantes. Isso demonstra que o nosso esforço tem sentido e vale a pena", prosseguiu.
A Europa também não escapou às comparações: "Não queremos que nos aconteça o que aconteceu na Europa, onde tiveram de escolher quem se salvava", referiu Fernández.
Se os números no campo sanitário são destacados pelo Presidente da Argentina, as consequências da quarentena surgem no campo económico com a destruição de empresas e empregos.
A Federação de Comércio e Indústria da Cidade de Buenos Aires calculou que, até agora, 24 mil lojas, equivalente a 18% do total, fecharam as portas para sempre. Com o endurecimento do isolamento social, outras 8.400 lojas correm o mesmo risco, elevando para 27% o número de falências só na capital argentina.
"O problema económico não é a quarentena, é a pandemia. E isso afeta todos os países por igual. A diferença com os outros países é que temos menos mortos", declarou o Presidente da Argentina, criticando quem projeta a queda do Produto Interno Bruto do país como o mais grave de todos.
Analistas políticos indicam que a grande incógnita passa pelo nível de acatamento ao novo pedido de esforço numa sociedade em que 80,3% demonstra ter o seu estado de ânimo afetado, segundo um estudo da Faculdade de Psicologia da Universidade de Buenos Aires.
"O Presidente [no discurso de hoje] usou muito 'por favor' e 'peço-lhes' num tom conciliador porque, para que um confinamento total funcione, é necessário a colaboração. Esse é o desafio político mais importante porque, depois de 100 dias de quarentena, a sociedade exibe uma fadiga social e uma necessidade de maior liberdade", considerou o analista político Rosendo Fraga.