Estas declarações surgiram um dia após uma polémica declaração do Presidente francês Emmanuel Macron, que acusou a Turquia de "responsabilidade histórica e criminal" neste conflito.
"A França, que Macron dirige, ou que pelo contrário não consegue dirigir neste momento, encontra-se [na Líbia] apenas para prosseguir os seus interesses com uma mentalidade destrutiva", declarou o chefe da diplomacia, Mevlüt Cavusoglu.
"Por um lado, a NATO considera a Rússia como uma ameaça. Mas por outro, a França, membro da NATO, esforça-se por reforçar a presença da Rússia na Líbia", acrescentou no decurso de uma conferência de imprensa em Ancara.
As duras trocas de palavras surgem em plena escalada das tensões entre Ancara e Paris, dois aliados da NATO mas com posições opostas face ao conflito na Líbia.
A Turquia apoia militarmente o Governo de Acordo Nacional (GAN), sediado em Tripoli e reconhecido pela ONU, face às forças dissidentes do marechal Khalifa Haftar, que controla as regiões do leste do país, a designada Cirenaica.
Haftar é apoiado pelo Egito, Emirados Árabes Unidos e de forma mais prudente pela Rússia, que mantém a amarga recordação de ter permitido a intervenção militar ocidental em 2011. De acordo com numerosos analistas, e apesar das contínuas negações oficiais, a França também tem apoiado o marechal dissidente.
Cavusoglu afirmou que apesar dos interesses divergentes da Turquia e Rússia na Líbia, os dois países "trabalham para uma declaração de cessar-fogo".
Após a queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011, na sequência de uma revolta interna e uma decisiva intervenção aérea de forças da NATO (onde a França se destacou juntamente com Reino Unido e Estados Unidos), a Líbia resvalou para uma situação de caos, com contínuos conflitos e lutas pelo poder.
Em abril de 2019, as forças de Haftar desencadearam uma ofensiva em direção a Tripoli, mas o seu avanço que parecia imparável foi travado há poucas semanas, na sequência do apoio turco ao GAN.
Apoiados pelos drones de Ancara, as forças pró-GAN ameaçam agoira Sirte, uma localidade estratégica em direção ao leste do país do norte de África e uma "linha vermelha" para o Egito, que ameaçou intervir militarmente.
Confrontada com as insistentes críticas da França, que intervém militarmente na turbulenta região do Sahel, a Turquia optou tem optado por responder de forma virulenta.
"O que é necessário questionar e criticar é a política da França, mais precisamente a de Macron (...). Macron deveria ter em consideração que criticar a Turquia não lhe trará qualquer benefício no plano da política interna. Espero que tenha extraído as lições", assinalou hoje Davutoglu.
A guerra civil na Líbia, que se agravou na sequência de uma crescente ingerência externa, em particular do Egito, Emirados Árabes Unidos, França e Rússia em apoio a Haftar e, mais recentemente, da Turquia e Qatar em apoio ao campo oposto -- a Itália, antiga potência colonial, também tem privilegiado os contactos com Tripoli --, provocou muitos milhares de mortos e mais de 200.000 deslocados.