Síria: Falha tentativa de aprovar proposta para reduzir entrada da ajuda

A Federação Russa voltou a falhar a aprovação pelo Conselho de Segurança da ONU de uma redução da ajuda humanitária transfronteiriça na Síria, cuja autorização expira no fim do dia, por falta de votos suficientes.

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Lusa
11/07/2020 06:54 ‧ 11/07/2020 por Lusa

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Síria

Segundo fontes diplomáticas, o projeto de resolução russo que previa a supressão de um dos dois pontos de entrada na Síria, na fronteira com a Turquia, teve quatro votos (Federação Russa, China, Vietname e África do Sul), sete contra (EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Bélgica, Estónia e República Dominicana) e quatro abstenções (Indonésia, Tunísia, Níger e São Vicente e Granadinas).

Uma tentativa similar, na quarta-feira, saldou-se pelo mesmo resultado e mesma votação.

Antes, durante o dia de sexta-feira, a Federação Russa e a China tinham vetado uma resolução germano-belga que pretendia manter a situação relativa à ajuda humanitária transfronteiriça na Síria.

No total, o Conselho de Segurança realizou cinco escrutínios sobre o tema da autorização da passagem da ajuda internacional para populações sírias, sem chegar a uma solução.

O dispositivo transfronteiriço da ONU, que permite encaminhar ajuda para a população síria sem intervenção de Damasco, existe desde 2014. O seu prazo expira hoje à noite.

Hoje, a Federação Russa fez o seu 16.º veto e a China o 10.º de um texto ligado à situação na Síria, desde o desencadeamento da guerra, em 2011.

Na terça-feira, a Federação Russa e a China tinham colocado um primeiro veto ao texto da Alemanha e Bélgica, que renovava por um ano a autorização da ONU, mantendo no noroeste os atuais dois pontos de passagem na fronteira com a Turquia, em Bab al-Salam, que conduz à região de Alepo, e em Bab al-Hawa, que serve a região de Idlib, onde vivem cerca de quatro milhões de pessoas.

Moscovo, que argumenta que o texto compromete a soberania do seu aliado sírio, já tinha conseguido em janeiro impor a redução do programa, de quatro para dois pontos de entrada, e da autorização, de um ano, que vigorava desde a sua criação em 2014, para seis meses.

Os russos avançam que mais de 85% da ajuda passa atualmente por Bab al-Hawa, pelo que o ponto de entrada em Bab al-Salam pode ser fechado.

Alemães e belgas, atuais membros não permanentes do Conselho de Segurança e encarregados da componente humanitária do dossiê sírio na ONU, insistiram com o texto submetido a votação na sexta-feira, em que propunham, em cedência à Federação Russa, a redução da autorização para seis meses, mas mantendo os dois pontos de entrada na Síria.

Na quarta-feira, em entrevista à agência de notícias France-Presse, a embaixadora dos EUA na ONU, Kelly Craft, afirmara que a manutenção destes dois pontos representava uma "linha vermelha" para o seu país.

Segundo esta diplomata, suprimir o ponto de entrada em Bab al-Salam significaria cortar a ajuda a 1,3 milhões de sírios a norte de Alepo.

Depois do duplo veto sino-russo, ainda é possível um compromisso entre belgas, alemães e russos, mesmo que a autorização de passagem fronteiriça expire hoje à noite, estimaram alguns diplomatas.

"Se a autorização for renovada com alguns dias de atraso, não é o fim do mundo. Isso suspende as colunas (de abastecimento) durante alguns dias, mas não as coloca em risco", salientou um diplomata, sob anonimato.

Para a ONU, manter os dois pontos é crucial, em particular perante o avanço da pandemia do novo coronavírus na região.

Em relatório de junho, o secretário-geral da ONU, António Guterres, tinha reclamado o prolongamento do dispositivo por um ano e a manutenção dos dois pontos de acesso.

Várias organizações não-governamentais (ONG) alertaram nos últimos dias para os efeitos de uma paragem definitiva da ajuda externa.

Isso significaria "um golpe devastador para os milhões de famílias sírias que dela dependem para água potável, alimentação, cuidados de saúde e habitação", estimou uma delas, a Oxfam.

O presidente da ONG International Rescue Committee, David Miliband, denunciou, em comunicado, "um dia negro" para os sírios, considerando "uma vergonha" este duplo veto no espaço de uma semana.

 

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