A Human Rights Watch (HRW), os Centros de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins e dos Direitos Humanos e a Saúde Humanitária e a Women's Link Worldwide pedem aos Estados-membros e doadores que apoiem a "assistência humanitária apolítica" na Venezuela, que, segundo os mesmos, vive "uma situação extrema".
Como indicado por aquelas organizações, através de uma declaração divulgada pela HRW, a situação naquele país do Caribe "é extrema" e até já "antes da pandemia o sistema de saúde já havia entrado em colapso".
Por isso, consideram que "não está preparado para enfrentar a situação da atual crise de saúde".
O assunto será tratado no âmbito de um evento especial da ONU, organizado pelas missões permanentes da Alemanha e da República Dominicana em Nova York, intitulado "Ajudando a Venezuela a enfrentar a emergência humanitária durante a pandemia de covid-19".
"O precário sistema de saúde venezuelano, enfraquecido por anos de negligência na infraestrutura, escassez de medicamentos e suprimentos e sérias interrupções no fornecimento de água, não está em posição de impedir a propagação da covid-19, para atender com segurança os doentes infetados ou proteger os profissionais de saúde", disse Kathleen Page, médica e investigadora.
Page, membro da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins e dos Centros de Saúde Pública e Direitos Humanos da universidade, disse que a precariedade da Venezuela não permite enfrentar um desafio como o da pandemia de covid-19.
As organizações lembraram que, no início de junho passado, o ministro da Saúde da Venezuela, Carlos Alvarado, e a Assembleia Nacional da maioria da oposição (AN) assinaram um acordo para coordenar esforços que buscam obter financiamento internacional que reforce a capacidade do país de responder à pandemia do novo coronavírus.
Embora os suprimentos tenham sido recentemente distribuídos nos centros de saúde, no âmbito do acordo, este ainda "deve ser implementado na íntegra e sua execução deve ser monitorizada por terceiros independentes que garantam que a assistência chegue aos venezuelanos que precisam, o que não significa que esteja a acontecer", sublinham.
"Nos hospitais, não há suprimentos básicos para prevenir infeções e tratar doenças. Muitos têm acesso intermitente à água, enfrentam cortes regulares de energia e têm poucos medicamentos, ventiladores ou equipamentos de proteção para o pessoal médico e de enfermagem", detalha a nota da HRW.
Na opinião das organizações participantes, a pandemia "exacerbou a emergência preexistente, que se deve principalmente às medidas tomadas pelo Governo de Nicolás Maduro".
"As condições de pobreza e desnutrição em que muitos venezuelanos se encontram criam um ambiente favorável para a disseminação de doenças infecciosas", acrescenta o documento.
As mesmas organizações consideram "duvidosas" as cifras da pandemia apresentadas pelas autoridades venezuelanas e a HRW lembra que as autoridades venezuelanas notificaram 16.571 casos confirmados da covid-19 e 151 mortes como resultado da doença, mas que "o número real é certamente muito maior, devido à disponibilidade limitada de testes confiáveis e à falta de transparência, perseguição a profissionais de saúde e jornalistas que reportam sobre o assunto".
Segundo especialistas de diferentes organizações, as autoridades venezuelanas "não devem interferir na distribuição equitativa da assistência e devem permitir que a ONU faça tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar a população venezuelana".
"Isso significa conceder aos trabalhadores humanitários acesso total a todos os hospitais e clínicas, permitindo-lhes circular livremente no país, apesar das restrições relacionadas com a quarentena, e dando-lhes acesso prioritário ao combustível, além de acabar com a retaliação contra os trabalhadores da área da saúde que divulgam informações verdadeiras sobre a covid-19", enfatizam.
Insistem igualmente que o governo venezuelano deve "permitir que especialistas independentes analisem e publiquem todos os dados epidemiológicos disponíveis, desagregados por género, idade e local".
A ideia é que haja "maior transparência" em relação à magnitude da emergência humanitária, divulgando um registo preciso de casos e mortes confirmados da covid-19 e retomando a publicação periódica de relatórios detalhados sobre mortalidade e morbidade".
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 660 mil mortos e infetou mais de 16,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 1.725 pessoas das 50.613 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.