"Temos estado monitorizando a situação principalmente o tema nutricional, dos alimentos e da saúde. As pessoas estão sem possibilidades de levar alimentos a casa, o isolamento social, a quarentena e as medidas que têm sido tomadas devido à pandemia tem afetado o ingresso dos venezuelanos", afirmou Janeth Márquez.
Em declarações à Unión Rádio, Janeth Márquez explicou que "mais de 75% da população venezuelana trabalha na economia informal e na revenda [de produtos] e tudo isso está 'colapsado' devido à pandemia".
"As pessoas não têm como comprar alimentos, como fazer uma dieta balanceada e por isso, quando pesamos e medimos os meninos de 0 a 5 anos e as mulheres grávidas, vemos que entre os meses de abril, maio e junho a desnutrição aumentou", explicou.
Segundo a diretora da Cáritas, nos meses de janeiro e fevereiro a situação das venezuelanas tinha registado uma ligeira melhoria devido "a remessas [de famílias], a alguns subsídios e ajudas", mas a partir de abril vemos como a desnutrição, "que era de 8,9%, atingiu 17,6%" de média nacional.
"Em média, temos zonas como Zúlia, Yaracuy e Falcón [três dos 24 estados do país], em que o número é superior a 22%. As pessoas não têm alimentos e começa-se a ver as consequências", frisou.
Janeth Márquez explicou que segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), "quando há mais de 10% de nutrição entre um grupo de crianças, estamos em crise, e que a partir de 15% entramos em emergência".
Por outro lado, explicou que a Igreja Católica venezuelana, através da Cáritas Venezuela e outras organizações sociais, tem distribuído alimentos localmente, suprimentos contra o coronavírus e medicamentos para doenças crónicas.
"É urgente multiplicar por cem a entrada de ajuda humanitária. Necessitamos de ajuda. Estamos realmente assutados", disse, precisando que há sete milhões de venezuelanos em situação de carência.
Na Venezuela estão confirmados 32.607 casos de coronavírus e 276 mortes associadas à covid-19.
Os dados oficiais dão conta que 21.747 pessoas recuperaram da doença.
A Venezuela está desde 13 de março em estado de alerta, o que permite ao executivo decretar "decisões drásticas" para combater a pandemia.
A atividade económica é limitada e apenas está permitida a comercialização de produtos básicos essenciais, em horário reduzido.
Os voos nacionais e internacionais foram restringidos até 12 de setembro e a população está impedida de circular entre os diferentes municípios do país.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 766 mil mortos e infetou mais de 21,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.