As líderes da oposição tinham apelado a uma ação por parte das mulheres de todo o país na véspera da nomeação oficial do atual Presidente, Alassane Ouattara, pelo seu partido como candidato a um terceiro mandato.
"A polícia interveio quando vários grupos de jovens se juntaram às mulheres que foram mobilizadas no espaço Kouté, perto do Palácio da Justiça", disse uma residente de Yopougon, um bairro da classe trabalhadora em Abidjan, contactada por telefone pela agência France-Presse.
"A polícia usou gás lacrimogéneo para dispersar toda a gente", disse outro residente.
Em Cocody, um bairro chique de Abidjan, foi criado um grande cordão policial com a polícia de choque em cruzamento estratégico, dissuadindo qualquer manifestação, relatou a agência noticiosa.
Em Bonoua (sudeste), o reduto da antiga primeira-dama Simone Gbagbo, as mulheres caminharam calmamente, sob uma boa escolta da guarda, relatou Hervé Niamkey, um residente local.
Mesmo assim, manifestantes, incluindo muitos jovens, ergueram barricadas, cortando a estrada internacional que liga a capital da Costa Marfim à fronteira com o Gana.
Em Abengourou (centro-leste de Abengourou), "os jovens e as mulheres manifestaram-se antes de serem dispersos", relatou um jornalista de uma estação de rádio local.
Na cidade de Niablé, perto de Abengourou, a polícia dispersou também "uma manifestação de jovens e mulheres", de acordo com outra estação de rádio local.
As autoridades da Costa do Marfim tinham anunciado na quinta-feira a decisão de suspender manifestações públicas no país até 15 de setembro, precisamente em vésperas desta marcha de mulheres da oposição contra um terceiro mandato do Presidente.
"O conselho [de ministros] decidiu suspender as manifestações na via pública para as permitir apenas em áreas fechadas", segundo um comunicado.
"A medida tomada no âmbito do atual estado de emergência vigora até 15 de setembro (...) e evita as consequências como o balanço humano e material de manifestações anteriores e os riscos de abertura de bolsas de conflito comunitário", adiantava a nota.
O anúncio surgiu quase uma semana após violentas manifestações ligadas ao anúncio da controversa candidatura do Presidente, Alassane Ouattara, a um terceiro mandato, que se transformaram em violência durante três dias, deixando "seis mortos, cerca de 100 feridos, 1.500 deslocados internos, 69 pessoas presas e muitos danos materiais", de acordo com um relatório oficial divulgado na quarta-feira.
Alassane Ouattara, 78 anos, eleito em 2010 e reeleito em 2015, tinha anunciado, pela primeira vez em março, que já não se candidataria, e iria apoiar o seu primeiro-ministro, Amadou Gon Coulibaly.
Mas, depois de Coulibaly morrer de ataque cardíaco em 08 de julho, Ouattara anunciou em 06 de agosto que iria, afinal, concorrer a um terceiro mandato.
A Constituição permite dois mandatos presidenciais, mas a oposição e o Governo discordam sobre a interpretação da reforma adotada em 2016: os apoiantes de Ouattara dizem que o mandato foi reposto a zero, enquanto os seus opositores consideram inconstitucional uma terceira candidatura.
A primeira volta das eleições presidenciais da Costa do Marfim foi oficialmente marcada para 31 de outubro.