Cidadãos lamentam falta de opções para entrar e sair de Timor-Leste
Cidadãos de vários países, incluindo portugueses e timorenses, lamentaram nos últimos dias o facto de Timor-Leste estar desde março, e por tempo indefinido, sem opções de voos comerciais que permitam entrar e sair do país.
© Lusa
Mundo Covid-19
A situação está a afetar um largo número de pessoas, desde trabalhadores que terminaram contratos, funcionários de empresas internacionais, estudantes ou pessoas com problemas de saúde urgentes.
Nos últimos dias, vários casos ouvidos pela Lusa lamentam que o Governo timorense não dê uma solução para este problema, autorizando a realização de voos que permitam viajar de e para a ilha.
Todos notam que funcionários internacionais e de missões diplomáticas ou outros ligados a organizações não-governamentais, têm acesso a um voo operado quinzenalmente pelo Programa Alimentar Mundial (PAM).
Em alguns casos esse voo já foi utilizado para deslocações breves em férias ou descanso, sendo que o resto dos cidadãos estrangeiros -- incluindo turistas presos na ilha há vários meses -- não têm opção de sair.
Um dos casos é de uma cidadã portuguesa em Timor-Leste que explicou à Lusa que arrasta "uma infeção desde fevereiro, que não parece ter cura", não sendo possível fazer no país um adequado cultivo de bactérias.
"Fez-me perder uma gravidez e isso sim foi um preço muito alto, que não devia ter pago. Perdemos o bebé e ainda tive de ser internada, tendo-me sujeitado a tratamentos muito agressivos, sem anestesia, sem higiene. Isso nunca devia ter acontecido", explicou.
"Se estivesse noutro sítio estaria a fazer exames que são essenciais para saber se posso voltar a engravidar, se está tudo bem. Mas não posso porque não consigo sair de aqui", refere.
Também a necessitar de viagem urgente a Portugal por questões médicas está outro cidadão português residente em Díli há longa data e que lamentou, em declarações à Lusa, que por não ter estatuto de cooperante não possa "ser apoiado pela embaixada portuguesa".
"Tenho uma operação que estava marcada para acontecer em Portugal em finais de junho e que não é possível realizar em Timor-Leste. Não tenho estatuto cooperante pelo que não posso ser apoiado pela embaixada portuguesa para a minha saída de Timor. A não realização da operação num prazo curto, entre três a seis meses, pode ter efeitos muito graves, inabilitantes e irreversíveis", disse.
"Estive doente durante o confinamento sem acesso a medicação apropriada, se a conseguisse tinha eliminado de vez a possibilidade de reincidência, que pode voltar a suceder por me ter tratado com os únicos medicamentos disponíveis em Timor", referiu.
Um casal português, que terminou há meses o seu contrato e pretende regressar a Portugal com os filhos, também lamenta não ter havido opções até agora, explicando que Timor-Leste, para quem não tem rendimentos, é um país com um elevado custo de vida.
A precisar de viajar para Portugal está também uma professora portuguesa, Manuela Isidro, que tem colocação numa escola no sul do país, onde tem de se apresentar, e que não tem tido qualquer alternativa para sair.
Isidro queixa-se do que diz ser o tratamento discriminatório por parte das autoridades portuguesas que dão mais facilidades a agentes da cooperação do que aos restantes cidadãos portugueses.
"Tratam-nos quase como portugueses de segunda. Somos quase invisíveis aos olhos da embaixada quando não somos cooperantes. Os cooperantes têm todas as facilidades e os restantes estão numa situação de desigualdade em relação aos outros, nestas viagens", disse à Lusa.
Outro dos casos problemáticos tem a ver com alunos que terminaram este ano o 12.º na Escola Portuguesa de Díli e que querem continuar estudos em universidades em Portugal.
Viona dos Santos, que quer estudar engenharia biomédica, explica que como outros amigos quer ir para Portugal, mas sem voos comerciais de Timor-Leste não havia solução.
"Se esta viagem ocorrer, queríamos aproveitar este avião para viajar até Portugal, pagando nós próprios o custo da viagem", disse à Lusa.
Igualmente sem solução até ao momento estão técnicos de uma empresa internacional que opera em Timor-Leste, que não podem viajar da Europa para Díli desde março e cuja presença, segundo fonte da companhia, é "crítica" para o projeto.
"Mesmo que fosse com opções limitadas, de um voo por mês, seria útil poder ter opções para que as nossas equipas viajassem. Sem opções é difícil organizar o desenvolvimento do projeto", disse a fonte, que pediu o anonimato.
Um outro funcionário internacional destacado em serviço numa empresa timorense explica que precisa de tratamento médico em Kuala Lumpur -- que não está disponível em Timor-Leste -- e também não consegue viajar.
"Tenho uma carta de uma clínica a explicar que preciso desse tratamento, que não está disponível aqui em Timor-Leste. Tentei aceder assim ao voo do PAM mas disseram que não cumpria os requisitos", explicou à Lusa.
O voo do PAM faz a ligação entre Díli e Kuala Lumpur de onde os passageiros podem depois conseguir ligações para outros países.
Timor-Leste está atualmente com um caso ativo de covid-19 -- de um total de 26, dos quais 25 já recuperados -- e está no seu quarto período de 30 dias de estado de emergência, que termina no início de setembro.
Em declarações à Lusa, a ministra dos Negócios Estrangeiros timorense disse estar sensível para este problema e que pretende levar o tema ao Conselho de Ministros.
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