"Acho que por haver menos coisas para fazer, as pessoas estão a tentar canalizar o seu tempo e dinheiro para coisas que provavelmente estavam na gaveta há algum tempo", disse à Lusa Sandra Carapinha. "Tenho inclusive alunos que estão a ter duas aulas por semana, pois como não vão jantar fora têm mais dinheiro para gastar a aprender português", acrescentou.
Segundo a tutora, que trabalha a partir de Santa Mónica, Los Angeles, o abalo económico provocado pela pandemia não teve impacto no negócio. "Mesmo em tempos de covid, em que a economia está complicada e as pessoas estão a perder empregos, eu basicamente estou no meu limite de alunos", afirmou. "Tenho muitas pessoas a quererem aprender", reiterou.
Os alunos que procuram a tutoria e conteúdos da Learn European Portuguese Online têm perfis variados, indo dos lusodescendentes que querem aprender a língua dos avós até aos norte-americanos que pretendem fazer negócios em Portugal ou emigrar.
"Não é só esse lado da comunidade portuguesa, também há um crescente interesse por parte dos americanos em Portugal, a quererem aderir aos vistos como o D7", revelou. "Há muitos americanos a quererem ir viver para Portugal e eles querem chegar lá já sabendo um pouco da língua". A tutora disse que alguns alunos começam a aprender português dois anos antes de se mudarem.
"Há um interesse em Portugal e isso reflete-se na aprendizagem da língua", explicou, referindo que o país "está na moda" e é uma situação muito diferente da que se verificava há apenas alguns anos.
"Quando me mudei para aqui, em 2011, a maior parte das pessoas não tinha uma opinião formada de Portugal ou sabia muito pouco", recordou. "Agora, digo que sou de Portugal e as pessoas respondem que estiveram há pouco tempo ou que vão no mês que vem", acrescentou. Há agora um conhecimento e apreço pelo país: "De repente, Portugal começou a ser falado nos Estados Unidos, é um facto".
Por ter nascido nos Estados Unidos da América (EUA) e vivido em Portugal desde os nove anos, Sandra Carapinha é bilingue e isso ajuda no seu trabalho. "Tento ensinar português de uma forma criativa. A minha formação em comunicação ajuda-me a ser uma professora diferente das outras", declarou.
Parte do trabalho consiste em vídeos explicativos com elementos visuais apelativos que Carapinha cria para o canal de YouTube, e que nos últimos meses começaram a receber mais visualizações. "As bibliotecas aqui de Los Angeles só têm livros em português brasileiro. Por isso pensei em criar os meus próprios conteúdos", referiu.
As aulas são personalizadas para cada aluno e incluem elementos sobre a cultura portuguesa, além da gramática.
Além do pico de interesse em Portugal por parte de norte-americanos que querem investir ou obter um visto, Sandra Carapinha também tem notado uma diferença geracional nos lusodescendentes.
"Há muita vontade nesta nova comunidade portuguesa, seja segunda ou terceira geração, de aprender a língua, de se sentirem ligados a Portugal", frisou.
"Tenho alunos com ascendência portuguesa que não aprenderam a língua porque na altura, infelizmente, muitos pais achavam que os filhos só deviam falar inglês. Havia inclusive professores que pediam aos pais para não ensinar", contou. "Nos últimos anos já se desmistificou o bilinguismo, e agora há muitos pais que querem que os filhos comecem a aprender três ou quatro línguas desde pequenos".
Por outro lado, o facto de Portugal estar em voga dá uma perspetiva diferente aos lusodescendentes. "Nota-se muito aqui nos Estados Unidos que as pessoas falam muito sobre Portugal e há um orgulho em ser português que acaba por se mostrar no interesse em aprender a língua", apontou.
Até ao início da pandemia de covid-19, Sandra Carapinha também dava aulas presenciais, mas o grande crescimento da empresa tem sido 'online'. Isso permite-lhe, inclusive, ter alunos de outras partes do mundo, como Índia e Canadá.
"O problema é que o português europeu, sendo um nicho, é difícil haver numa escola aqui em Los Angeles porque não há muitos portugueses", disse a tutora. "É muito mais fácil dar aulas 'online', porque acabo por ter alunos do país inteiro ou até de fora dos Estados Unidos", admitiu.
Para complementar as aulas e os vídeos, Carapinha disponibiliza conteúdos e acessos exclusivos a quem subscrever uma modalidade de apoio na plataforma Patreon.
Os EUA são o país com mais mortos (registo superior a 187.000) e também com mais casos de infeção confirmados (mais de 6,2 milhões).
A pandemia de covid-19 já provocou pelo menos 875.703 mortos e infetou mais de 26,6 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.