"Não sabemos. Não fazemos ideia do que está dentro de um buraco negro. É isso que faz deles objetos tão exóticos, tão intrigantes. Eles representam o colapso do nosso entendimento das leis da Física", afirmou a física e astrónoma norte-americana ao telefone, em direto com jornalistas na cerimónia do anúncio do prémio.
Andrea Ghez recebeu o prémio ex-aequo com Reinhard Genzel, com quem descobriu a existência de um buraco negro supermassivo no centro da galáxia. A Academia Sueca atribuiu também o Nobel da Física deste ano ao matemático Roger Penrose, também por descobertas sobre buracos negros.
Questionada sobre o facto de ser a quarta mulher a receber o Nobel da Física, Andrea Ghez afirmou esperar que "inspire outras jovens mulheres a seguir a área", salientando que a "perceber a realidade do mundo físico é crucial para os seres humanos".
O membro do comité do Nobel Ulf Danielson disse aos jornalistas que "Reinhard Genzel e Andrea Ghez provaram que os buracos negros existem", um trabalho desenvolvido ao longo de décadas.
Fizeram-no usando equipamento muito sofisticado, com o qual "monitorizaram estrelas em órbita de algo que não conseguiam ver".
No entanto, frisou que o caminho já tinha sido aberto por Roger Penrose, que a partir de meados da década de 1960 "lançou as bases teóricas que permitiram dizer que estes objetos existem e que podem ser encontrados se se for à procura deles".
"Antes de Penrose, isso estava longe de ser claro. Ele compreendeu a matemática e introduziu ferramentas novas que permitiram provar o processo através do qual [os buracos negros] ocorrem naturalmente", descreveu.
Até lá, com inspiração na teoria geral da relatividade do físico Albert Einstein, "pensava-se que seriam apenas artefactos matemáticos que não se podiam formar na realidade".
"O nosso entendimento atual dos buracos negros é que são regiões no espaço com uma gravidade tão forte que nem a luz consegue escapar-lhe", resumiu.
A teoria geral da relatividade, aplicada aos buracos negros, prevê que quando se atinge o seu limite -- o horizonte de um buraco negro -- o tempo e o espaço ficam distorcidos ao ponto de o tempo, a que normalmente "não se consegue escapar, nem fazer voltar para trás", passa a mover-se inexoravelmente para o centro do buraco negro.
"É tão difícil sair de um buraco negro como voltar atrás no tempo", disse Ulf Danielson.