No rescaldo do ataque levado a cabo num mercado de Natal na cidade alemã de Magdeburgo continuam a surgir informações sobre o suspeito e são cada vez mais as questões em torno das suas motivações.
Recorde-se que o ataque aconteceu por volta das 19 horas locais (18h00 em Lisboa) e o condutor, que seguia ao volante de um BMW preto e que avançou contra a multidão, foi detido no local, quando tentava fazer marcha-atrás. As autoridades já tinha indicado que, "à luz dos factos conhecidos, o suspeito é o único autor do crime".
O homem já foi identificado como Taleb A., de 50 anos, um médico que vivia na cidade vizinha de Bernburg. Nasceu na Arábia Saudita e foi para a Alemanha em 2006.
A publicação Der Spiegel avança que o homem trabalhava na ala psiquiátrica da clínica Salus de Bernburg, ausentando-se frequentemente nas últimas semanas por motivo de doença. Taleb A. é especialista em psiquiatria e psicoterapia. A informação foi confirmada pela clínica à revista alemã, que informou que o homem se mostrou pouco preparado nas reuniões.
Já os meios de segurança indicaram à Spiegel que o suspeito não é conhecido como islamista. Aparece na Internet como um ex-muçulmano e opositor do Islão. Os antecedentes do incidente ainda não são totalmente claros, tal como o possível motivo.
A revista alemã avança ainda que o homem terá feito um donativo ao Conselho Central dos Ex-Muçulmanos - e depois retirou-o. "Taleb A. contactou-nos há alguns anos", disse Mina Ahadi, presidente do Conselho Central dos Ex-Muçulmanos, à Spiegel.
O suspeito doou 500 euros. "Dois dias depois, exigiu a devolução do dinheiro. Devolvemos o dinheiro e ele começou a insultar-nos e a aterrorizar-nos por e-mail. Depois bloqueei-o em todo o lado", indicou a responsável.
Além disso, as autoridades receberam uma queixa contra Taleb A., em dezembro de 2023, devido a declarações pública na então rede social Twitter. Dizia que a Alemanha iria "pagar um preço" pela alegada perseguição de refugiados da Arábia Saudita.
A imprensa local descreve também a sua declarada simpatia pela Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, e por teorias sobre um alegado plano para islamizar a Europa, concebido, segundo ele, pela ex-chanceler Angela Merkel.
A chegada à Alemanha em 2006 foi como estudante e obteve asilo em julho de 2016, depois de ter sido ameaçado de morte por se ter afastado do Islão.
Foi também identificado o seu ativismo a favor das mulheres sauditas. Informava e aconselhava mulheres sauditas sobre as possibilidades de fugirem do seu país e tinha uma página na 'internet' com informações sobre o sistema alemão de asilo.
Numa entrevista concedida ao Frankfurter Rundschau, em 2009, afirmou que muitas mulheres sauditas o procuraram, em busca de proteção, depois de terem sido violadas pelo homem de quem dependiam.
Nessa entrevista, afirmou que o sistema de asilo alemão era um caminho para a liberdade destas mulheres. Contudo, a partir de certa altura, começou a surgir o distanciamento em relação ao Islão e este transformou-se numa rejeição aberta da política migratória alemã.
Noutras publicações nas redes sociais, em novembro, deixou uma mensagem com "quatro exigências da oposição saudita" e afirmou que a Alemanha tinha que proteger as suas fronteiras da migração ilegal. Em outras publicações nas redes sociais, mostrou simpatia pela AfD, porque disse que era o único partido que lutava contra o Islão na Alemanha.
Taleb A. queria fundar, juntamente com a AfD, uma academia para ex-muçulmanos na Alemanha, de acordo com o Der Spiegel.
Há apenas uma semana, foi difundida uma entrevista sua, num blogue islamofóbico dos Estados Unidos, na qual afirmava que o Estado alemão tinha uma operação secreta para perseguir ex-muçulmanos sauditas em todo o mundo e, ao mesmo tempo, concedia asilo a 'jihadistas' sírios.
Numa outra mensagem no X, que foi posteriormente apagada, anunciou vingança, segundo o diário Die Welt.
De realçar que várias pessoas morreram na sequência do ataque, entre as quais uma criança. As autoridades locais já tinham referido que o número de mortos deveria aumentar, tendo em conta a gravidade dos feridos. O último balanço, adiantado por fontes oficiais, apontava para dois mortos - uma criança e um adulto - e mais de 60 feridos.
Há, contudo, alguma divergência quanto ao número de vítimas na imprensa alemã. A Der Spiegel avança cinco mortos, enquanto o Bild, por exemplo, diz que há quatro mortos.
Magdeburgo é uma cidade a cerca de 160 quilómetros de Berlim, com cerca de 240 mil habitantes.
[Notícia atualizada às 11h34]
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