Fauci colocado à força por Trump no centro da disputa eleitoral nos EUA

Coordenador da luta anticoronavirus e figura respeitada nos EUA, Anthony Fauci sempre procurou manter-se afastado da política, mas com a covid-19 a ser o principal tema das eleições presidenciais, está contra a sua vontade na arena eleitoral.

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Lusa
16/10/2020 06:27 ‧ 16/10/2020 por Lusa

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EUA/Eleições

Desde o início da pandemia do novo coronavirus, a esquerda dos EUA tem-no elogiado e a direita criticado, mas Donald Trump sabe que ele é popular.

A sua equipa de campanha eleitoral utilizou informações do imunologista para fazer crer que este elogiou a gestão da crise sanitária pelo presidente norte-americano, quando se aproxima o escrutínio de 03 de novembro.

Mas o próprio candidato democrata, Joe Biden, já disse que iria ouvir Anthony Fauci.

"É frustrante para ele ver-se politizado quando passou (...) 40 anos a procurar evitar fazer política", garantiu o presidente do Departamento de Ética Médica e Política de Saúde da Universidade da Pensilvânia, Zeke Emanuel, à AFP.

Por que razão os dois campos procuram obter o diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas? "Integridade e credibilidade. É tão simples quanto isto", explicou Emanuel. "O homem é íntegro. Ele diz o que sabe da ciência, pelo que é credível", garantiu o académico.

Depois do aparecimento do novo coronavirus, Anthony Fauci, de 79 anos, célebre no mundo da infecciologia e da luta contra a sida antes desta pandemia, não tem parado de apontar a perigosidade do vírus, sem nunca criticar frontalmente Donald Trump, apesar de este não parar de minimizar, mesmo depois de ter contraído a doença da covid-19.

Em um vídeo de campanha de Trump, a narradora afirma que "o presidente Trump atacou o vírus frontalmente, como todo o líder deve fazer" antes da divulgação de um extrato de uma entrevista de Anthony Fauci.

"Não posso imaginar (...) quem quer que possa fazer mais", aparece o médico a afirmar. Um extrato que dá a entender que apoia a ação de Trump. Mas este extrato de vídeo tirou o cientista do seu descanso.

"As declarações que me são atribuídas sem a minha permissão pela equipa de campanha do Partido Republicano foram retiradas do seu contexto, a partir de um comentário que fiz há vários meses, sobre os esforços das autoridades sanitárias federais", explicou o imunologista.

E Fauci insistiu na sua neutralidade: "Em quase cinco décadas de serviço público, nunca apoiei publicamente qualquer candidato político".

Na estação televisiva CNN, Fauci adiantou que pensava que o vídeo devia ser retirado.

Mas os republicanos mantêm a sua versão dos factos. "As palavras pronunciadas são certas e proveem diretamente da boca do doutor Fauci", defendeu Tim Murtaugh, diretor de comunicação da campanha de Trump.

Prova de que Fauci está no centro da campanha eleitoral, Trump disse na quinta-feira, durante um comício no Estado da Carolina do Norte, que o médico pertence ao campo adversário.

"Tony, Tony Fauci, é uma pessoa simpática", garantiu Trump, antes de acrescentar: "Ele é democrata. Toda a gente o sabe".

Anthony Fauci por vezes disse bem da resposta do governo norte-americano à pandemia, mas tem alertado nos últimos tempos sobre um aumento dos casos de covid-19, enquanto Trump se felicita pelo trabalho feito.

Do lado dos democratas, Fauci também entra nos cálculos da estratégia política.

A senadora Kamala Harris, que é candidata à vice-presidência, na lista de Joe Biden, afirmou recentemente que se iria vacinar se Anthony Fauci o aconselhasse, ao contrário do que faria se o conselho viesse de Trump.

Depois da difusão do vídeo de campanha Trump, Joe Biden agarrou a ocasião para criticar o seu adversário republicano.

"Eis uma coisa que vou fazer de forma diferente se for presidente: vou escutar a sério os conselhos e o conhecimento do Dr. Fauci. Não o vou atacar por ter dito a verdade", escreveu na rede social Twitter.

Estes desenvolvimentos não devem ter efeitos palpáveis sobre a eleição, uma vez que a maior parte dos eleitores já fez a sua escolha. Mas pode colocar o presidente em dificuldade junto de eleitores mais indecisos.

"Isto reforça a ideia que Trump só se interessa por si próprio e pelo seu destino eleitoral, não pelo país, como um líder deveria fazer", comentou Todd Belt, professor de Ciências Políticas, em George Washington University.

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