Mais de 600 crianças filhas de 'jihadistas' europeus retidas na Síria

Mais de 600 crianças filhas de 'jihadistas' europeus estão retidas em campos no nordeste da Síria sob controle curdo, segundo um estudo de investigadores belgas publicado hoje, que deplora a "inação" dos governos.

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Lusa
28/10/2020 15:28 ‧ 28/10/2020 por Lusa

Mundo

Estudo

Thomas Renard e Rik Coolsaet, especialistas em 'jihadismo' no Instituto Egmont em Bruxelas, responsáveis pelo estudo, indicam que "entre 610 e 680" crianças de nacionalidade europeia estão mantidas com as suas mães nos campos de Roj e Al-Hol, onde estão agrupados desde 2019 muitos ex-combatentes do grupo extremista Estado Islâmico (EI).

A estes somam-se os cerca de 400 adultos -- incluindo homens presos, especialmente em Hassaké, Síria, - existem atualmente cerca de mil europeus privados de liberdade na zona entre o Iraque e a Síria, prossegue o estudo, que reúne os dados dos governos, especialistas e organizações não-governamentais (ONG) ativas no local.

A França é o primeiro país destacado, já que "150 a 200" adultos e "200 a 250" crianças francesas estão retidas, principalmente na Síria. Em seguida, a Alemanha, Países Baixos, Suécia, Bélgica e Reino Unido, com "pelo menos 38" crianças belgas e 35 menores britânicos.

Os números referem-se a 11 países no total, de onde provêm "mais de 95%" dos europeus identificados entre os combatentes estrangeiros, afirma o estudo.

Para os adultos que lutaram nas fileiras do EI, cujo repatriamento foi excluído, a detenção "fora de qualquer quadro jurídico internacional", aliada à imprecisão da perspetiva de um julgamento, lembra o caso de prisioneiros no campo de detenção norte-americano de Guantánamo, apontam os autores.

"Uma situação semelhante apresenta-se hoje para estes detidos europeus", argumentou Thomas Renard à agência francesa France-Presse, apelando às autoridades curdas para considerarem o andamento dos processos.

Quanto às crianças, diz o investigador, "são vítimas das escolhas dos pais, da guerra, das condições extremamente difíceis nestes campos e também da inércia dos governos europeus".

Estes "estão plenamente cientes da sua situação, mas optaram por não repatriar, muitas vezes apesar da recomendação das próprias administrações ou serviços antiterrorismo", continuou Renard.

Para o investigador, deve-se rejeitar o argumento por vezes utilizado de "bombas-relógio" que essas crianças representariam uma vez de volta a solo europeu.

"60% a 70% delas têm menos de cinco anos e quase todos os outros têm menos de 12 anos, são poucos os adolescentes", explicou.

Desde outubro de 2019, quando uma ofensiva turca contra as forças curdas piorou ainda mais as condições de vida nesses campos, "mais de 53" mulheres europeias fugiram com os seus filhos para a Turquia, que as deportou para os seus países de origem.

Porém, no total, durante dois anos, apenas cerca de 60 crianças foram repatriadas da Síria para um Estado europeu.

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