Covid-19: O desafio logístico de fazer chegar as vacinas em segurança

Com empresas farmacêuticas a anunciarem dados provisórios, mas promissores sobre a última fase dos ensaios clínicos de vacinas contra a covid-19, os países começam a pensar nos desafios logísticos associados à distribuição.

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© Dogukan Keskinkilic/Anadolu Agency via Getty Images

Lusa
28/11/2020 09:43 ‧ 28/11/2020 por Lusa

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Covid-19

Como é que milhões de doses de vacinas podem ser transportadas de forma rápida e em segurança quando finamente estiverem prontas? O setor logístico está a preparar-se, como consegue, numa fase em que ainda há várias incógnitas.

Quantas vacinas serão necessárias?

De acordo com a Federação Internacional da Indústria Farmacêutica (IFPMA), a previsão é de que sejam produzidas entre 12 e 15 mil milhões de doses em todo o mundo.

Será insuficiente, no entanto, para chegar a toda a população mundial antes de 2023 ou 2024, estima a Duke University, da Carolina do Norte nos Estados Unidos, que monitoriza o mercado emergente de cerca de 200 vacinas candidatas.

Todas as vacinas serão transportadas da mesma forma?

Em termos de condições de conservação, os laboratórios estão a preparar dois tipos de vacinas: algumas, como aquela que está a ser desenvolvida pela Pfizer e a BioNTech, vão exigir temperaturas de armazenamento muito baixas, até -80°C, enquanto outras poderão ser armazenadas em temperaturas mais convencionais, entre 2°C a 8°C.

O primeiro tipo, que será particularmente difícil de transportar, deverá representar até 30% das doses que serão distribuídas no mundo, estima Mathieu Friedberg, diretor-executivo da empresa de logística Ceva, citado pela agência francesa AFP.

Para as restantes, do segundo tipo, será sempre necessária uma logística específica. "Continua a ser [uma logística] farmacêutica e, portanto, é sensível, mas menos técnica do que -80°C", explica Mathieu Friedberg.

Vão ser transportadas de avião?

O diretor-executivo da Ceva acredita que cerca de metade das vacinas deverá implicar uma logística que combine recursos aéreos e terrestres, mas tudo depende das distâncias e da urgência do transporte.

Como será organizado o transporte aéreo?

"Será sempre necessário algum tipo de transporte aéreo", disse o responsável pela frota da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), afirmando que o transporte de uma única dose para cada habitante do planeta encheria o equivalente a 8.000 aviões de carga de grande porte.

Fazendo as contas para a frota da Air France, por exemplo, os 99 aviões de passageiros de longo curso podem transportar, cada um, mais de 400 mil doses no porão e cada um dos dois Boeing 777 leva mais de um milhão de doses.

"Os voos de passageiros com capacidade de porão devem ser aumentados", defende o diretor-executivo da IATA, Alexandre de Juniac, para quem "as fronteiras devem ser abertas para permitir a distribuição".

A queda do tráfego aéreo internacional, devido à pandemia da covid-19, limitou a oferta, uma vez que 60% da carga é transportada nos porões dos aviões de passageiros e, por isso, a capacidade atual da frota aérea é insuficiente para responder à procura.

Como se estão a organizar as transportadoras?

Em Portugal, como noutros países, foram constituídos grupos de trabalho, as chamadas 'task-forces' a todos os níveis, seja ao nível do Estado, dos setores e das próprias empresas.

A acreditação das empresas transportadoras para a distribuição das vacinas cabe aos próprios laboratórios.

"Uma instituição ou autoridade sanitária de um país trabalha com um laboratório, o laboratório certifica sua cadeia logística, cabendo-lhe trabalhar com seus subcontratados para que essa cadeia logística respeite todos os critérios", resume Mathieu Friedberg, da Ceva.

Estará tudo pronto?

"Ainda existem muitas incógnitas", explica a empresa de logística Geodis, desde as quantidades a serem transportadas, a que temperaturas, de acordo com que horários, com que esquemas de distribuição, entre outras.

A propósito dos desafios acrescidos no caso da vacina da Pfizer e da BioNTech, Mathieu Friedberg recorda que já existe transporte a -80°C, para o transporte de órgãos. "O que muda aqui é a escala, num período de tempo relativamente curto."

"As diretrizes ainda não são completamente claras para o transporte, portanto é extremamente difícil dizer aos clientes se os contentores refrigerados são a forma mais adequada de distribuir a vacina", disse por sua vez Mike van Berkel, representante de vendas na Holanda da fabricante de contentores de aviação VRR Aero.

Mas os profissionais do setor ouvidos pela AFP são unânimes: estarão prontos.

Leia Também: Distribuidores pedem planeamento rápido da campanha de vacinação

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