Cerca de 70 países conseguirão vacinar apenas uma em cada dez pessoas

Cerca de 70 países em desenvolvimento, onde se incluem seis lusófonos, só terão vacinas suficientes para imunizar uma em cada dez pessoas contra a covid-19 em 2021, alertou hoje uma coligação de organizações internacionais.

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Lusa
09/12/2020 16:48 ‧ 09/12/2020 por Lusa

Mundo

Covid-19

"Enquanto os países mais ricos, que representam 14% da população global, já garantiram 53% de todas as vacinas mais promissoras, 67 países em desenvolvimento - alguns dos quais estão entre os mais pobres do mundo - só terão vacinas suficientes para imunizar uma em cada dez pessoas em 2021", estima uma análise divulgada hoje pela Peoples Vaccine Alliance.

A aliança, que integra as organizações Amnistia Internacional, a Frontline AIDS, a Global Justice Now e Oxfam, analisou os negócios já feitos entre os países e as oito principais vacinas candidatas a certificação.

As conclusões apontam que, enquanto países ricos como o Canadá conseguiram já garantir vacinas para imunizar cinco vezes a sua população, 67 países de baixo e médio rendimento arriscam "ficar para trás" no acesso às vacinas, a menos que "sejam tomadas medidas urgentes" pelos governos e pela indústria farmacêutica para garantir a produção de doses suficientes para todos.

A maioria destes países localizam-se no continente africano e na Ásia e entre eles contam-se os lusófonos Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Cinco países - Quénia, Mianmar, Nigéria, Paquistão e Ucrânia - registam, no seu conjunto, 1.5 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus.

"A menos que algo mude drasticamente, milhares de milhões de pessoas em todo o mundo não receberão uma vacina segura e eficaz para a COVID-19 durante os próximos anos", adiantou Anna Marriott, gestora de política de saúde da Oxfam.

Por seu lado, Heidi Chow, da Global Justice Now, sublinhou a necessidade da partilha do conhecimento científico e da propriedade intelectual por detrás das vacinas, "para que possam ser produzidas doses seguras e eficazes suficientes."

"Os governos devem também assegurar que a indústria farmacêutica coloca a vida das pessoas à frente dos lucros", acrescentou.

Steve Cockburn, da Amnistia Internacional, criticou o "açambarcamento de vacinas" pelos países ricos, considerando que "mina os esforços globais para assegurar que todos, em qualquer lugar, possam ser protegidos da covid-19".

"Ao comprar a grande maioria da oferta mundial de vacinas, os países ricos violam as suas obrigações em matéria de direitos humanos", disse.

As vacinas desenvolvidas pela AstraZeneca/Oxford, Moderna e Pfizer/BioNTech receberam mais de 5 mil milhões de dólares de financiamento público, o que, segundo estas organizações, lhes atribuiu a responsabilidade de agir no interesse público global.

"Os países ricos têm doses suficientes para vacinar toda a gente quase três vezes, enquanto que os países pobres não têm o suficiente para chegar sequer aos trabalhadores da saúde e às pessoas de risco", alertou Mohga Kamal Yanni, da People's Vaccine Alliance.

"O sistema atual, onde as empresas farmacêuticas utilizam o financiamento governamental para a investigação, mantêm direitos exclusivos e mantêm a sua tecnologia em segredo para aumentar os lucros, pode custar muitas vidas", afirmou.

Lois Chingandu, da Frontline AIDS, assinalou que esta pandemia é um problema global que requer uma solução global.

"A economia global continuará a sofrer enquanto grande parte do mundo não tiver acesso a uma vacina", disse.

Os cálculos da análise, têm por base o facto de que 30 países de baixo rendimento e 37 de rendimento médio apenas terão acesso a qualquer vacina através do compromisso assinado entre países, o COVAX.

Até agora, o COVAX conseguiu assegurar 700 milhões de doses dos principais candidatos à vacina, a serem distribuídas entre os 92 países que aderiram e que, no seu conjunto, têm 3,6 mil milhões de habitantes.

 

 

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