ONU perturbada com relatos de devolução de refugiados a campos no Tigray

A ONU revelou hoje "relatos alarmantes" de que refugiados eritreus que escaparam aos confrontos militares no Tigray estão a ser devolvidos pelo Governo etíope a campos no interior da região, debaixo de fogo há mais de um mês.

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© EBRAHIM HAMID/AFP via Getty Images

Lusa
11/12/2020 16:31 ‧ 11/12/2020 por Lusa

Mundo

Etiópia

 

"Estes são relatórios perturbadores. O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) não sabia de qualquer movimento deste tipo de refugiados eritreus até hoje. Recebemos mensagens alarmantes de eritreus expatriados e, quando as analisámos, verificámos que várias centenas de refugiados tinham sido colocados em autocarros esta manhã para serem devolvidos à região de Tigray", confirmou hoje Babar Baloch, um porta-voz da agência da ONU, em declarações à Lusa.

"Não tínhamos sido informados pelo Governo ou por quaisquer outras autoridades ou parceiros de uma deslocalização planeada de refugiados", acrescentou.

Atendendo aos "acontecimentos traumáticos" a que os refugiados dizem ter estado expostos na região, "pensamos que os refugiados eritreus deveriam ter a oportunidade de receber proteção e assistência fora da região", de acordo com as leis nacionais e internacionais a que o Governo da Etiópia está vinculado, acrescentou a mesma fonte.

O ACNUR continua "muito preocupado" com a segurança e as condições dos cerca de 94 mil refugiados eritreus que permanecem na região do Tigray, junto à fronteira com a Eritreia, e que foram apanhados no conflito, ficando sem acesso aos bens de primeira necessidade, incluindo alimentação e medicamentos, há mais de um mês, sublinhou o porta-voz do ACNUR.

"Fazemos eco do apelo do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, no sentido do acesso sem restrições a Tigray, com a finalidade de chegarmos às pessoas necessitadas, e continuamos a repetir o apelo conjunto da ONU para que todas as partes permitam a liberdade de movimento aos civis afetados que procuram assistência, segurança e proteção, dentro da região de Tigray ou fora das áreas afetadas", concluiu Babar Baloch.

Pensa-se que mais de um dos seis milhões de habitantes da região do Tigray se encontram deslocados, incluindo cerca de 50 mil que passaram as fronteiras para o Sudão, e que milhares de pessoas, incluindo civis, terão sido mortas nos combates, que ameaçam desestabilizar a região do Corno de África.

Os EUA consideram hoje que as informações sobre a presença de tropas da Eritreia no Tigray são "credíveis" e constituem um "desenvolvimento sério" no conflito, que opõe desde o passado dia 04 de novembro as forças do exército federal etíope às tropas e milícias da Frente de Libertação Popular de Tigray (TPLF).

"Temos conhecimento de relatórios credíveis sobre o envolvimento militar da Eritreia no Tigray e consideramos isto como um desenvolvimento sério", disse o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano à France-Presse (AFP).

Os Estados Unidos da América instam "essas tropas a retirarem-se imediatamente", acrescentou o responsável, notando também que há relatos de "violações dos direitos humanos" na região e apelando a "todas as partes" a respeitarem a lei internacional e os direitos humanos.

"Continuamos a exortar todas as partes a restaurar a paz, proteger os civis, incluindo os refugiados, e permitir o acesso humanitário sem entraves ao Tigray", concluiu o porta-voz.

A região de Tigray permanece em grande parte isolada do mundo exterior, física e virtualmente, e as organizações humanitárias têm vindo a alertar há semanas para a fome crescente, ataques a refugiados e falta de medicamentos e outros fornecimentos.

O Governo da Etiópia alega ter terminado a operação militar iniciada em 04 de novembro e afirma que a insegurança que se mantém na região configura uma situação de "casos de polícia". Ainda assim, mantém o estado separatista totalmente isolado e com as comunicações e internet fortemente limitadas e assume sozinho a operação humanitária, rejeitando o que designa como "ingerência" em assuntos internos do país.

Os governos da Etiópia e do Tigray consideram-se reciprocamente como ilegítimos, e os combates em curso na região são o culminar de meses de fricção crescente desde que o primeiro-ministro e prémio Nobel da Paz de 2019, Abiy Ahmed, tomou posse em 2018 e afastou do poder a até aí dominante TPLF.

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