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Presidenciais no Uganda culminam campanha eleitoral marcada por violência

Quase 18 milhões de eleitores no Uganda, um dos países mais jovens do mundo, escolhem na quinta-feira um Presidente para os próximos cinco anos, num escrutínio que culmina uma campanha presidencial marcada pela repressão policial e violência sem precedentes.

Presidenciais no Uganda culminam campanha eleitoral marcada por violência
Notícias ao Minuto

08:10 - 13/01/21 por Lusa

Mundo Uganda

O atual chefe de Estado, Yoweri Museveni, 76 anos e há mais de 35 no poder, candidato pelo Movimento de Resistência Nacional (NRM, na sigla em inglês), partido histórico no poder, enfrenta 10 candidatos, entre os quais se destaca Robert Kyagulanyi Ssentamu, ex-cantor "afrobeat" com 38 anos, conhecido pelo seu nome artístico, Bobi Wine, muito popular no país e candidato à presidência ugandesa pela Plataforma de Unidade Nacional.

Desde 08 de novembro, início da campanha eleitoral, vários candidatos da oposição, entre eles Bobi Wine, foram detidos por diversas vezes e impedidos de fazer campanha, a pretexto de restrições impostas às concentrações populares no âmbito do combate à pandemia do novo coronavírus.

Os apoiantes da oposição foram alvo de gás lacrimogéneo e, por vezes, munições reais, jornalistas que cobriam a oposição, críticos do regime e organizações de observação eleitoral e de defesa dos direitos humanos foram impedidos de trabalhar de várias formas, vários colaboradores de Bobi Wine encontram-se detidos, e o próprio passou a usar colete à prova de bala e capacete durante ações de campanha.

Em novembro, a repressão de manifestações no país em reação a uma das detenções de Wine resultou na morte de, pelo menos, 54 pessoas pela polícia, intensificando a pressão internacional, particularmente por parte dos Estados Unidos da América, aliados tradicionais de Museveni.

Longe dos tumultos, Yoweri Museveni percorreu tranquilamente o país, usando o seu icónico chapéu de aba larga, inaugurando estradas, e fazendo flexões em público em demonstrações de vitalidade.

Durante o seu longo reinado, o Presidente ugandês conseguiu fundir o Estado com o seu partido, o NRM, e impedir qualquer alternativa política. Em 35 anos, Museveni nunca perdeu uma eleição. Concorre ao sexto mandato em 14 de janeiro, depois de ter alterado a Constituição do país por duas vezes: uma para suprimir o limite de mandatos e outra para lhe retirar o limite de idade do chefe de Estado. Mas Bobi Wine parece ter deixado nervoso um dos mais antigos líderes de África.

Yoweri Museveni fala a um Uganda mais velho, rural, mas preside ao destino de uma população extremamente jovem - a idade média é inferior a 16 anos e mais de 80% tem menos de 30 anos - e que está cada vez mais urbanizada e educada.

A grande maioria da população do país não conheceu outro líder que não Museveni e é demasiado jovem para reconhecer como ativo digno de votos a estabilidade e prosperidade relativas que o atual regime ofereceu ao país, após os anos negros de Idi Amin Dada e Milton Obote.

O Uganda é um dos mais bem sucedidos destinos do investimento direto estrangeiro (IDE) da África Oriental. Em 2019, o país registou um recorde de 1,3 mil milhões de dólares e um 'stock' acumulado de 14,3 mil milhões, de acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento, graças ao constante desenvolvimento de grandes campos petrolíferos e de um oleoduto internacional, bem como de projetos na construção, indústria transformadora e agricultura.

Não obstante, Museveni tem falhado na resposta às expectativas e necessidades da população, que não acredita no futuro de um país onde apenas 75.000 novos empregos são criados todos os anos, quando durante o mesmo período de tempo 700.000 jovens entram na força de trabalho, de acordo com o Banco Mundial.

Bobi Wine tinha 3 anos quando o atual Presidente chegou ao poder. "Museveni é de uma geração diferente. Ele representa a história. Eu represento o futuro", voltou a afirmar há dias. Esta mensagem, reiterada pelo "presidente dos guetos", deputado desde 2017, tem sido embrulhada com promessas de acabar com a corrupção, que Wine responabiliza pela falta de oportunidades de emprego.

Antiga colónia britânica, o Uganda nunca assistiu a uma transição pacífica do poder desde a sua independência, em 1962. Entre 1966 e 1986, ano em que Museveni ascendeu ao poder, o país sofreu cinco golpes de Estado e manteve regimes que mataram dezenas de milhares de pessoas.

As eleições no Uganda têm sido manchadas por alegações de fraude e estas podem não ser exceção.

Num discurso na terça-feira, último dia de campanha, ao lado de outras figuras da oposição na capital do país, Kampala, Bobi Wine insistiu que a sua campanha não é violenta, mas instou os seus apoiantes a não se deixarem intimidar pelas forças de segurança, exortando-os a permanecerem a menos de 100 metros das urnas após votarem, em vez de regressarem a casa, como exige a comissão eleitoral.

A ideia da oposição é impedir eventuais fraudes eleitorais através do testemunho presencial - Wine disse aos apoiantes para usarem os telefones móveis, uma "arma poderosa" - mas a estratégia pode resultar em confrontos com as forças de segurança, que ocupam de forma massiva as ruas das principais cidades, e ter efeitos práticos mitigados.

O Uganda ordenou na terça-feira aos seus operadores de Internet a suspensão "imediata" do acesso a todas as redes sociais e serviços de mensagens - Facebook, Twitter, WhatsApp, Signal e Viber - até novo aviso, que pode não acontecer logo após o escrutínio.

A União Europeia (UE) fez saber pelo seu Alto Representante para a Política Externa, Josep Borrell, que espera eleições "transparentes, inclusivas e credíveis", bem como "um campo de igualdade que permita a todos os ugandeses exercer os seus direitos democráticos, tanto candidatos como cidadãos, sem medo de intimidação ou violência".

O chefe da diplomacia europeia enalteceu "o trabalho crucial dos defensores dos direitos humanos, jornalistas e organizações da sociedade civil", no país, tanto mais importante quanto não foi autorizada a presença de observadores externos nas eleições.

Os observadores da UE, destacados em todo o Uganda nas eleições de 2006, 2011 e 2016, não irão observar este sufrágio, uma vez que a oferta de Bruxelas de destacar uma pequena equipa de peritos eleitorais não foi aceite.

"Os valores comuns da democracia, do respeito pelos direitos humanos e do Estado de direito continuarão a sustentar as relações da UE com o Uganda em 2021 e mais além", concluiu o Alto Representante europeu.

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