"A Europa deve sair da zona de conforto, o conforto do dizer 'há um processo (de negociação) que apoiamos', apesar de esse processo poder durar décadas", disse Burrita.
O ministro marroquino considera que a Europa "deve estar na dinâmica internacional impulsionada pelos Estados Unidos".
Em 10 de dezembro último, Donald Trump, que vai sair da Casa Branca no próximo dia 20, anunciou na rede social Twitter que assinou uma proclamação a reconhecer a soberania marroquina sobre o Saara Ocidental.
"A proposta séria, credível e realista de Marrocos para a autonomia é a única base para uma solução justa e duradoura para garantir a paz e a prosperidade!", considerou.
"Marrocos reconheceu os Estados Unidos em 1777. Portanto, é apropriado que reconheçamos a sua soberania sobre o Saara Ocidental", justificou.
O ministro de Rabat quer um apoio europeu à posição marroquina: "faz falta um movimento do conjunto da Europa para apoiar a única perspetiva possível de resolução da questão do Saara (Ocidental), a autonomia no quadro da soberania marroquina".
Burita não negou a validade das negociações, agora congeladas, mas relativizou-as, ao afirmar que para Marrocos é preciso esclarecer antes de as partes se sentarem à mesa "com quem se negoceia" e "o que se negoceia", insistindo que qualquer solução deve passar pela autonomia do Saara Ocidental sob soberania marroquina.
A conferência reuniu 40 países -- a França foi o único europeu presente -, principalmente de África, mundo árabe, América Central e Caraíbas, que expressaram uns a seguir aos outros o apoio à integração do Saara Ocidental em Marrocos, em regime de autonomia.
Mais salientaram que esta é "uma opção séria, credível, realista e duradoura", bem como "a única solução possível".
Os organizadores da conferência foram Marrocos e os EUA, a qual tinha sido visivelmente organizada para aproveitar os últimos dias de Donald Trump na Casa Branca.
O anúncio surpreendente de Trump, em 10 de dezembro, integrou-se em um acordo tripartido, mediante o qual Marrocos restabelecia relações diplomáticas com Israel.
De facto, o subsecretário de Estado dos EUA para o Médio Oriente e Norte de África, David Schenker, copresidiu à conferência, juntamente com Burita.
O próprio Schenker visitou no último fim de semana as duas maiores cidades sarauís, El Aaiun e Dajla.
A questão do Saara ocidental opõe desde há décadas Marrocos aos independentistas saarauís.
A Frente Polisário, movimento independentista saarauí, exige um referendo de autodeterminação previsto pela ONU, enquanto Marrocos, que controla mais de dois terços deste vasto território desértico e antiga colónia de Espanha, propõe um plano de autonomia sob a sua soberania.