"É vital que todos na Irlanda do Norte e no Reino Unido mostrem calma e moderação, bem como determinação para resolver os problemas", disse o ministro de Estado, Michael Gove, aos deputados, considerando "totalmente inaceitáveis" as ameaças contra os trabalhadores nos portos de Lane e Belfast.
O Governo regional da Irlanda do Norte revelou ter interrompido as inspeções nos portos de Belfast e Larne "no interesse do bem-estar da equipa" e Mark McEwan, chefe assistente do Serviço de Polícia da Irlanda do Norte, adiantou que a força aumentou as patrulhas, "a fim de tranquilizar os funcionários e a comunidade local".
Escritos em grafite apareceram recentemente na área de Larne, 32 quilómetros a nordeste de Belfast, descrevendo os funcionários portuários como "alvos", refletindo um agravar das tensões pós-Brexit na Irlanda do Norte.
O presidente da Câmara Municipal local, Peter Johnston, queixou-se do "grafite profundamente perturbador e um aumento notável das tensões na comunidade".
Políticos de todos os partidos do Governo de coligação da Irlanda do Norte reagiram num comunicado conjunto, afirmando que "o Executivo está unido em condenar quaisquer ameaças feitas contra trabalhadores e funcionários que desempenham funções nos portos de Belfast e Larne".
"Não há lugar na sociedade para intimidação e ameaças contra aqueles que se dirigem ao seu local de trabalho", vincaram.
Enquanto os partidos nacionalistas irlandeses apoiam em geral o acordo do Brexit para a Irlanda do Norte, os partidos 'unionistas' pró-britânicos vêem o acordo de saída do Reino Unido da UE como parte do problema.
Ian Paisley, um deputado do Partido Democrata Unionista, culpou o tratado por perturbar "o delicado equilíbrio da comunidade que existe aqui".
"Aqueles que pensaram que poderiam impor algo contra a vontade dos unionistas estão agora a ter o resultado da divisão que criaram", acusou.
A saída definitiva do Reino Unido do mercado único da União Europeia (UE) no final de 2020 levou à introdução de controlos alfandegários e veterinários sobre mercadorias que circulam entre território britânico e o bloco europeu em janeiro.
Os termos do divórcio entre o Reino Unido e a UE determinam também inspeções às mercadorias britânicas que vão para a Irlanda do Norte, porque a região faz fronteira com a Irlanda, membro da UE.
Uma fronteira aberta entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda é um pilar fundamental do processo de paz que pôs fim a décadas de violência na região.
Mas, com o Reino Unido fora da UE, a única maneira encontrada para evitar os controlos ao longo da fronteira foi manter a Irlanda do Norte vinculada a algumas das regras da UE, o que implica controlos sobre o comércio entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido.
A decisão é contestada por políticos 'unionistas' pró-britânicos, que dizem que ele sistema equivale a uma fronteira no Mar da Irlanda entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido e a polícia alertou para o risco de grupos violentos de 'unionistas' britânicos aproveitarem-se das tensões para reacender o conflito com os nacionalistas republicanos que querem juntar-se à República da Irlanda.
A complexidade da situação na Irlanda do Norte foi evidenciada na semana passada, quando a UE ameaçou proibir a exportação de vacinas contra a covid-19 para a Irlanda do Norte para tentar garantir mais doses do medicamento.
Bruxelas acabou por recuar após a intervenção de políticos britânicos, irlandeses e da Irlanda do Norte.
O porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer, condenou as ameaças de violência e enfatizou que "a situação realmente surgiu há algum tempo", antes das medidas da UE em relação às vacinas.
Revelou ainda disse que a equipa da UE na Irlanda do Norte foi avisada para não irem trabalhar hoje e que dirigentes do Reino Unido, Irlanda do Norte e do bloco vão discutir a situação na quarta-feira.