Guterres critica antiga cumplicidade entre Aung San Suu Kyi e Exército

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, declarou hoje que a antiga líder civil do Governo de Myanmar, Aung San Suu Kyi, detida num golpe de estado, era "demasiado próxima" e defensora das forças militares.

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© EuropaNewswire/Gado/Getty Images

Lusa
03/02/2021 20:22 ‧ 03/02/2021 por Lusa

Mundo

Myanmar

Numa entrevista virtual transmitida em direto pelo jornal Washington Post, António Guterres condenou o ataque militar ocorrido em Myanmar (ex-Birmânia) na segunda-feira e considerou que Aung San Suu Kyi, chefe 'de facto' do Governo, que foi detida, manteve muita proximidade e cumplicidade ao Exército.

"Aung San Suu Kyi, se a podemos acusar de alguma coisa, é de que estava demasiado próxima dos militares e protegia demasiado o Exército, nomeadamente em relação ao que aconteceu na dramática ofensiva do Exército contra os rohingya", declarou Guterres, na entrevista ao Washington Post.

"Mesmo no Tribunal Internacional, Aung San Suu Kyi assumiu a defesa do Exército", continuou o secretário-geral da ONU, repetindo a frase que acusa a antiga líder de "ser demasiado próxima do Exército", em referência às declarações da chefe do Governo civil em dezembro de 2019 perante o Tribunal Penal Internacional contra alegações de extermínio dos rohingya, a minoria muçulmana em Myanmar.

O secretário-geral condenou como "absolutamente inaceitável" um golpe militar que tenta reverter os resultados das eleições "que decorreram normalmente" em novembro e, principalmente, por vir depois de "um longo período de transição".

Guterres defendeu que o caminho a seguir é de pressionar as autoridades nacionais da antiga Birmânia: "Faremos todos os possíveis para mobilizar todos os atores-chave da comunidade internacional para pressionar em Myanmar para assegurar que o golpe é resolvido", sublinhou.

O secretário-geral da ONU disse que "infelizmente", o Conselho de Segurança da organização, que se reuniu de emergência na terça-feira, ainda não chegou a um ponto de "união" e "unanimidade" para uma declaração conjunta, mas acrescentou que terá de se demonstrar ao Exército birmanês que "esta não é a forma de liderar um país".

"Espero que a democracia possa progredir novamente no Myanmar, mas para isso, todos os prisioneiros têm de ser libertados e a ordem constitucional tem de ser restabelecida", declarou António Guterres.

Antigo alto comissário da ONU para os Refugiados, Guterres declarou que os rohingya, parte muçulmana da população que em 2017 foram alvos de "genocídio" segundo a ONU, têm de ter direitos assegurados e cidadania em Myanmar.

Os esforços e pressão nas autoridades birmanesas para "alterar políticas e criar condições para que este povo [rohingya] se sinta incluído e sinta que possa regressar em segurança e com dignidade" tem de ser continuado, declarou Guterres, apresentando preocupação em que o "progresso" registado nos últimos anos seja apagado por causa do golpe militar.

Segundo Guterres, existe "uma longa história" de preconceito e recusa contra os rohingya como parte de Myanmar, o que corresponde a uma má representação histórica.

"Sou português e os portugueses foram ativos nesta parte do mundo no século XVI e houve mercenários portugueses no antigo reino de Arracão e quando se leem testemunhos, havia sempre população muçulmana no reino, que agora corresponde ao estado de Arracão (ou Rakhine)", disse António Guterres, defendendo que os rohingya têm de ser aceites na sociedade.

Leia Também: Myanmar: China rejeita ter dado consentimento tácito ao golpe

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