Numa conferência de imprensa para apresentar a sua atualização sobre a situação em Myanmar, que será discutida no Conselho de Direitos Humanos da ONU na quarta-feira, Andrews sublinhou que a recusa de assistência pode levar a uma situação de "caos" e ter consequências regionais.
"A deterioração da situação em Myanmar e nos campos de refugiados vai desestabilizar as fronteiras e aumentar o número de pessoas que as atravessam", afirmou Andrews.
Muitos profissionais de saúde, adiantou, receiam que o país se possa tornar um foco de doenças infecciosas, como a tuberculose resistente aos medicamentos.
Recentemente, recordou o relator da ONU, o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas anunciou que a falta de financiamento devido a cortes por países como os Estados Unidos significará que a ajuda alimentar não chegará a um milhão de pessoas em Myanmar.
Quase metade do financiamento do PAM (4,4 mil milhões de dólares de um total de 9,7 mil milhões de dólares em 2024) provém dos Estados Unidos, onde o Presidente, Donald Trump, anunciou cortes no orçamento da ajuda internacional.
O secretário de Estado norte-americano anunciou na semana passada que os Estados Unidos já cancelaram 83% dos programas da agência de ajuda internacional (USAID), ou cerca de 5.200 contratos.
A revisão à ajuda internacional, que começou há sete semanas, vai permitir poupar "dezenas de milhares milhões de dólares" em iniciativas que "não funcionaram" e que "em alguns casos até prejudicaram" os interesses dos Estados Unidos, declarou Marco Rubio, na rede social X.
As organizações humanitárias temem que, se os Estados Unidos cortarem o financiamento, possam ser forçadas a eliminar programas básicos.
Myanmar enfrenta uma violenta guerra civil desde um golpe de Estado militar em 2021.
De acordo com a agência das Nações Unidas, mais de 15 milhões dos 51 milhões de habitantes do país não conseguem aceder a necessidades alimentares diárias.
Ao anunciar na semana passada o impacto dos cortes sobre a população de Myanmar, o PAM salientou que estes surgem numa altura em que o agravamento do conflito, das deslocações da população e das restrições de acesso, que já estão a levar a um aumento acentuado da necessidade de ajuda alimentar.
Hoje, Andrews afirmou que a junta militar birmanesa, no poder desde o golpe de Estado de fevereiro de 2021, está a perder terreno para os grupos armados e controla atualmente menos de um terço das cidades do país.
"Perdeu dezenas de milhares de soldados devido a deserções, rendições ou baixas, às quais respondeu recrutando, por exemplo, jovens raptados na rua ou nas suas casas a meio da noite", disse o perito norte-americano.
O relatório que Andrews apresentará ao Conselho de Direitos Humanos da ONU reiterará os graves abusos cometidos pela junta, que incluem ataques de artilharia a instalações civis como hospitais, escolas, lojas, templos e campos de deslocados.
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