"Hoje, a nossa enviada especial teve um primeiro contacto, durante o qual deixou clara a nossa posição ao vice-comandante militar", disse Guterres a jornalistas.
A emissária das Nações Unidas Christine Schraner Burgener também tem estado em contacto com outros países da região, afirmou, acrescentando: "Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para reunir a comunidade internacional e criar as condições para uma reversão deste golpe de Estado".
Guterres considerou o golpe militar "absolutamente inaceitável", mas o Conselho de Segurança da ONU adotou uma linha mais suave, apelando à libertação dos detidos, sem condenar formalmente o golpe, já que China e Rússia se opuseram à condenação.
A declaração adotada pelo Conselho de Segurança da ONU na quinta-feira sobre a situação em Myanmar expressa "profunda preocupação" com o estado de emergência decretado pelos militares e pede "a libertação de todos os detidos".
O documento também defende o regresso ao diálogo e a um processo democrático em Myanmar (ex-Birmânia).
Hoje, cerca de mil pessoas manifestaram-se na capital, em protesto contra o golpe de Estado, na maior manifestação até agora contra os militares, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP).
"Abaixo a ditadura militar", gritaram manifestantes, agitando bandeiras vermelhas do partido de Aung San Suu Kyi, a Liga Nacional para a Democracia.
A internet voltou hoje a sofrer "graves perturbações" em todo o país, tal como já tinha acontecido na segunda-feira, durante o golpe militar, informou a organização não-governamental Netblocks, que fiscaliza a liberdade de acesso à rede em todo o mundo.
As "perturbações" começaram "cerca das 10:00", hora local (03:30 em Lisboa), segundo a organização.
Os problemas com a internet no país somam-se ao bloqueio do acesso às redes sociais, incluindo Facebook e Twitter, após ordens dos militares aos operadores de telecomunicações, entre quarta e sexta-feira.
O exército prendeu na segunda-feira a chefe do Governo civil de Myanmar, Aung San Suu Kyi, o Presidente Win Myint e vários ministros e dirigentes do partido governamental, proclamando o estado de emergência e colocando no poder um grupo de generais.
Myanmar emergiu há apenas 10 anos de um regime militar que estava no poder há quase meio século.
Para justificar o golpe de Estado, imediatamente condenado pela comunidade internacional, os militares asseguraram que as eleições legislativas de novembro passado foram marcadas por "enormes irregularidades", o que a comissão eleitoral nega.
Os militares evocaram ainda os poderes que lhes são atribuídos pela Constituição, redigida pelo Exército, permitindo-lhes assumir o controlo do país em caso de emergência nacional.
O partido de Aung San Suu Kyi, que está no poder desde as eleições de 2015, venceu por larga maioria as eleições de novembro.
A vitória eleitoral de Suu Kyi, Prémio Nobel da Paz 1991, demonstrou a sua grande popularidade em Myanmar, apesar da má reputação internacional pelas políticas contra a minoria rohingya, a quem é negada a cidadania e o voto, entre outros direitos.
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