Peter Ben Embarek, especialista em segurança alimentar e zoonoses, responsável pela missão da OMS, começou a sua intervenção de forma muito clara, indicando que as primeiras conclusões do grupo de trabalho não vão alterar aquilo que já se conhece. "Mudou dramaticamente a história que sabíamos à partida? Não. Melhorou o nosso conhecimento, acrescentou detalhes a essa história? Absolutamente".
A equipa de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) que se encontra em Wuhan, na China, para tentar descobrir a origem da pandemia de Covid-19 deu esta terça-feira uma conferência de imprensa.
Liang Wannian, responsável pela equipa de especialistas na Covid-19 da Comissão de Saúde da China, foi quem apresentou as principais conclusões indicando que pode ter existido circulação não reportada do novo coronavírus em outras regiões, algumas semanas antes de Wuhan. O especialista indica que a revisão da investigação aos dados sugere que as primeiras indicações de circulação do vírus em estudos não publicados precedem a detecção inicial de casos em várias semanas.
Porém, explicou que não há indicação de propagação do SARS-CoV-2 na população antes de dezembro de 2019 e não há evidências suficientes para determinar se o vírus esteve em Wuhan antes dessa data. "Nos dois meses anteriores a dezembro não há evidências de que o [vírus] estivesse a circular na cidade".
LIVE from Wuhan : Media briefing on #COVID19 origin mission https://t.co/WGpRGsd8vE
— World Health Organization (WHO) (@WHO) February 9, 2021
O mercado de Huanan, em Wuhan, foi uma das localizações onde o vírus surgiu, a transmissão estava também a ocorrer em outros locais de Wuhan, na mesma altura. Ainda não é possível, com as evidências atuais, determinar como o SARS-CoV-2 foi introduzido no mercado de Huanan. O especialista indicou que a recolha de provas em cavernas com morcegos em Wuhan e noutros locais, com outros animais, não resultou na identificação do vírus que causa a Covid-19.
O responsável pela missão da OMS, Peter BenEmbarek, acrescentou, sobre este ponto, que todo o trabalho que diz respeito à identificação da origem da Covid-19 continua a apontar para uma reserva natural de morcegos, mas que é improvável que seja em Wuhan. Não foi, ainda, possível localizar a espécie hospedeira intermediária do coronavírus (transmissão para o ser humano a partir de um animal). A pesquisa sobre a introdução do vírus "é um trabalho em progresso", disse Embarek.
O especialista em segurança alimentar e zoonoses indicou que foram investigadas todas as hipóteses, incluindo a hipótese de um acidente num laboratório, conforme foi avançado. "Foram equacionados argumentos contra e a favor", disse, até para "poder levar a investigação numa direção útil", acrescentando que a "hipótese de acidente em laboratório é extremamente improvável".
Embarek indicou que há várias hipóteses ainda em cima da mesa, incluindo a circulação de comida congelada, sendo que "uma espécie hospedeira intermediária é a mais provável" e a que requer mais investigação.
Recorde-se que entre os lugares investigados pela equipa está o Instituto de Virologia de Wuhan, que os norte-americanos acusaram de ser a fonte da propagação do vírus, mas também o mercado de animais de Huanan, onde os primeiros casos foram relatados.