No seu quinto discurso sobre o estado da nação, que dá o 'tom' do programa do Governo para o ano em curso, Ramaphosa frisou que a implementação da política de BEE (Black Economic Empowerment, na sigla em inglês), será agora alargada ao setor privado e "a todos os níveis, incluindo acionista".
"É uma das nossas políticas que tem de ser implementada sem hesitação", acrescentou Ramaphosa, frisando ainda que o Governo pretende "reforçar a aquisição de conteúdo local" no âmbito da mesma política.
Ramaphosa reiterou a necessidade de o Governo acelerar a polémica expropriação de terras sem compensação financeira para superar as desigualdades sociais no país.
Sobre reformas económicas, o chefe de Estado destacou que "o setor privado é importante para a criação de empregos na África do Sul", assegurando que "haverá mais investimentos para o setor".
"O próximo ano deve ser um ano em que cresceremos como povo", salientou.
O Presidente sul-africano identificou o combate à pandemia de covid-19 e as reformas económicas como principais prioridades do Governo, sem precisar detalhes, nomeadamente sobre a criação de emprego e as reformas estruturais na economia do país.
"Temos que derrotar o coronavírus, devemos acelerar a recuperação económica, implementar reformas económicas e criar empregos sustentáveis, e por último devemos combater a corrupção e reforçar a capacidade do Estado", referiu Ramaphosa no parlamento, na Cidade do Cabo.
O chefe de Estado frisou que o país "deve ultrapassar a pobreza, a fome e a desigualdade social", salientando que "menos 1,7 milhão de pessoas foram empregadas no terceiro trimestre comparativamente ao primeiro".
O líder sul-africano disse que a taxa de desemprego no país subiu para 30,8%, frisando, no entanto, que o Governo "espera ver uma forte recuperação no setor do emprego até ao final do ano".
Com a economia do país em contração e no meio de uma pandemia sanitária global com origem na China, Ramaphosa, que é também presidente do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), o partido no poder desde 1994, referiu que o executivo pretende reduzir em 20% a dependência de produtos importados nos próximos cinco anos e que "haverá um grande programa habitacional que beneficiará aqueles que vivem em assentamentos informais".
"As cidades pós-'apartheid' estão a ser desenhadas em partes do nosso país", frisou.
Ramaphosa referiu ainda que o Governo está a reavaliar os mandatos das empresas públicas, as mais afetadas pela corrupção generalizada no Estado sul-africano.
No mesmo dia em que há 31 anos o ex-presidente sul-africano, Nelson Mandela, foi oficialmente libertado da prisão, Ramaphosa assegurou ao país que quer profissionais para administrar os municípios.
Mandela foi detido e encarcerado em 1962 após ter sido condenado a prisão perpétua pelo regime do 'apartheid' por conspirar para derrubar o Estado, tendo cumprido 27 anos de prisão.
"Durante três séculos fomos vítimas da opressão e a liberdade e democracia que conquistamos é também uma história de coragem e resiliência", afirmou Ramaphosa.
Anunciando a extensão por mais três meses de um subsídio da cobid-19 para os mais vulneráveis, o Presidente sul-africano disse que a atual crise pandémica "é também uma oportunidade de reconstrução para restituir" os valores, referindo-se a Mandela.
"Podemos superar a pandemia e as dificuldades, porque somos uma nação que nunca desiste", concluiu Ramaphosa, instando os sul-africanos a "marcharem pela igualdade e crescimento económico do país".
A África do Sul é o país mais afetado no continente, com mais de 46 mil mortos e quase 1,5 milhões de casos de infeção.
A crise económica, a corrupção generalizada, o desemprego galopante, a criminalidade, a violência do género e desigualdade social, foram as prioridades anunciadas em 2019 pelo chefe de Estado sul-africano.
Numa atualização sobre a economia mundial divulgada em janeiro de 2021, três meses antes da pandemia de covid-19, o Fundo Monetário Internacional (FMI) indicou uma previsão de 2,8% de crescimento da economia da África do Sul, em 2021, e 1,4% em 2022.
A previsão do FMI ocorreu após a produção estimada da África do Sul diminuir 7,5% em 2020.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.355.410 mortos no mundo, resultantes de mais de 107,3 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.