"Toda a gente deveria ser extremamente cautelosa quando falamos de vacinas, porque se trata de injetar uma substância ativa dentro do corpo humano. Por isso, é preciso ter 100% de certeza de que os canais que se usam para comprar vacinas são completamente transparentes e legítimos", sublinhou o porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer, durante a conferência de imprensa diária do executivo comunitário.
Mamer regia assim a uma notícia hoje publicada pelo portal de notícias Euractiv, que citava declarações do primeiro-ministro checo, Andrej Babis, segundo as quais a farmacêutica AstraZeneca teria proposto uma compra paralela de vacinas ao seu Governo.
No artigo, Babis referia que, "enquanto a AstraZeneca se recusou a entregar 80 milhões de doses à UE", a República Checa e outros três Estados-membros da UE "receberam ofertas recorrentes desta vacina" através de um "intermediário no Dubai".
"Acreditem em mim, teríamos definitivamente usado esta oportunidade se tivesse sido realista. Mas não temos esse dinheiro. E, claro, temos acordos europeus e temos de respeitá-los", disse Babis segundo o Euractiv.
Interrogado sobre estas declarações, o porta-voz da Comissão salientou que o processo de compra conjunta de vacinas feito pelo executivo comunitário serve para garantir a transparência das vacinas, e disse que "o que quer que seja fora deste canal", tem de ser "analisado com muita precaução".
"Sabemos, devido à primeira fase da pandemia, (...) que muitos produtos fraudulentos apareceram no mercado, nomeadamente máscaras e equipamento de proteção, por isso isto é obviamente algo a que estamos muito atentos", realçou.
Nesse âmbito, informou que o Organismo Europeu de Luta Antifraude (OLAF, na sigla em inglês) está a "analisar qualquer ameaça possível no que se refere a vacinas fraudulentas".
Interrogado por um jornalista sobre a existência de um alegado mercado negro de vacinas, Mamer referiu que o que "preocupa mais" a Comissão Europeia, por ser o "risco principal em termos de saúde pública", é a venda de produtos fraudulentos.
"É uma questão relativamente diferente daquela que refere, relativa aos mercados negros, mas existe o risco, quando se opera no mercado negro, que se acabe com produtos que não são, basicamente, verdadeiros. Portanto, estamos a estudar esta questão com atenção", sublinhou.
Relativamente à alegada oferta de vacinas à República Checa e outros três Estados-membros pela farmacêutica AstraZeneca, o porta-voz do executivo para a área da saúde, Stefan de Keersmaecker, recusou-se a "comentar sobre comentários", mas relembrou que a "estratégia de compra conjunta de vacinas baseia-se no trabalho conjunto entre Estados-membros e a Comissão".
"Por isso, negociações paralelas entre Estados-membros e empresas que se encontram no nosso portfólio [de vacinas] não são, evidentemente, permitidas no âmbito desta estratégia", concluiu.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.368.493 mortos no mundo, resultantes de mais de 107,7 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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