Atenas pretende "base comum" com Ancara para resolver diferendos

A Grécia pretende encontrar uma "base comum" com a Turquia "para resolver o seu diferendo", disse hoje em Atenas o chefe da diplomacia grega após uma segunda ronda negocial em torno da situação no Mediterrâneo oriental.

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Lusa
16/03/2021 16:50 ‧ 16/03/2021 por Lusa

Mundo

Mediterrâneo oriental

 

Esta reunião, centrada na disputa dos dois vizinhos sobre a delimitação das águas territoriais no Mediterrâneo Oriental, inseriu-se na segunda fase das conversações "exploratórias", um mecanismo retomado no final de janeiro após cinco anos de interrupção e destinado a tentar apaziguar as tensões entre os dois países membros da NATO.

"A Grécia participa de boa-fé nestas conversações", declarou aos 'media' o Ministro dos Negócios Estrangeiros grego Nikos Dendias no final do encontro, e com uma nova ronda prevista para breve em Istambul, segundo a televisão estatal grega ERT.

"Esperamos que [estes contactos] permitam encontrar uma base comum para resolver o nosso único diferendo com a Turquia: a delimitação da zona económica exclusiva e da plataforma continental no mar Egeu e no Mediterrâneo Oriental, na base do direito internacional e da convenção da ONU sobre o direito do mar", sublinhou.

As discussões entre diplomatas gregos e turcos num hotel de Atenas decorreram numa atmosfera pesada, um dia após a advertência da Turquia à Grécia, União Europeia (UE) e Israel.

A Turquia endereçou na segunda-feira uma nota diplomática à Grécia, União Europeia e Israel exigindo que obtenham a sua autorização para eventuais trabalhos na plataforma continental reivindicada por Ancara no Mediterrâneo Oriental.

A Turquia baseia-se num acordo de delimitação marítima assinado em novembro de 2019 com o Governo líbio sediado em Tripoli para reivindicar uma plataforma continental no Mediterrâneo Oriental consideravelmente ampliada, onde efetua prospeções de jazidas de hidrocarbonetos apesar da firme oposição da Grécia e Chipre.

Os 'media' turcos noticiaram que a iniciativa de Ancara foi decidida como reação a um acordo assinado em 08 de março entre Chipre, Grécia e Israel para a instalação do mais longo cabo elétrico submarino do mundo, com mais de mil quilómetros.

O projeto destina-se a ligar as redes elétricas de Israel, Chipre e Creta (Grécia) por um cabo submarino de 2.000 megawatts, a uma profundidade máxima de 2.700 metros.

A Turquia, ao basear-se nos planos deste projeto que foram divulgados, considera que este cabo submarino atravessará a plataforma continental reivindicada por Ancara.

Esta iniciativa influiu nas conversações de hoje e quando Ancara também exortou Atenas na segunda-feira, através do seu ministro da Defesa Hulusi Akar, a abandonar o seu "comportamento provocador e intransigente o mais depressa possível".

As relações entre os dois países membros da NATO agravaram-se em agosto passado com o envio pela Turquia do navio de pesquisas sísmicas "Orçu Reis" para as áreas disputadas, incluindo para uma zona perto da ilha grega de Kastellorizo, situada nas proximidades da costa turca e considerada rica em hidrocarbonetos.

Atenas parece garantir o apoio dos seus parceiros europeus, que no decurso da última cimeira em dezembro avisaram Ancara sobre a eventual aplicação de sanções. A cimeira europeia prevista para final de março deverá abordar de novo esta questão.

Na primeira ronda de conversações em Istambul, em 25 de janeiro, as duas partes não chegaram a acordo sobre a lista de assuntos a abordar, com Atenas a pretender apenas discutir a delimitação das águas territoriais no mar Egeu, e a Turquia insistindo em também abordar a definição do espaço aéreo entre os dois Estados.

Na segunda-feira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, exprimiu "sérias preocupações face à divergência de perspetivas [entre aliados] no Mediterrâneo oriental, a decisão da Turquia de adquirir o sistema de defesa antimísseis russo S-400 e as violações dos direitos democráticos na Turquia".

"A Grécia pretende transformar as questões greco-turcas num problema entre a Turquia e a UE e entre a Turquia e os Estados Unidos", denunciou por sua vez, na segunda-feira, Hulusi Akar. "Não o aceitamos e isso não nos conduzirá a nenhum lado", preveniu o responsável pela Defesa do Governo turco.

No entanto, Akar sublinhou "a importância das discussões exploratórias" e as que deverão decorrer dentro de uma semana entre os países membros da NATO, acrescentando que Ancara está disposta a "abordar todos os assuntos".

A 62.ª reunião das conversações grego-turcas decorreu a poucos dias do 5.º aniversário da controversa declaração UE-Ancara assinada em 19 de março de 2016, e que constrangia a Turquia a reduzir o número de migrantes que pretendem alcançar a Europa.

A questão migratória é frequentemente evocada por Ancara para exigir mais ajuda financeira da UE, que integra a Grécia desde 1981, a destinada à gestão dos pelo menos 3,5 milhões de refugiados que acolheu no seu território.

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