Ao fim da tarde de hoje, Lavrov reuniu-se com o homólogo chinês, Wang Yi, na cidade de Guilin, no sul da China, apenas dois dias depois de uma reunião tensa entre Pequim e Washington, realizada no Alasca, e de o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ter respondido afirmativamente a uma questão sobre se considerava "assassino" o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, e tê-lo acusando de interferir nas eleições norte-americanas de 03 de novembro de 2020.
Especialistas citados pela imprensa local indicaram que o encontro entre os diplomatas -- cujo conteúdo está ainda por conhecer, à exceção da fotografia que lhes foi tirada a cumprimentarem-se efusivamente - "envia a mensagem de que a abordagem dura por parte dos Estados Unidos não vai funcionar", tal como comentou o historiador Wu Xinbo ao diário South China Morning Post.
Outros comentadores, mas do jornal Global Times, acrescentaram que, na agenda, está também a forma como lidar com Washington sobre os processos de paz no Afeganistão e na Síria, o acordo nuclear com o Irão e o problema nuclear na península coreana.
Por seu lado, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Hua Chunying, negou hoje que Pequim tenha convidado Lavrov em nome dos Estados Unidos ou que tenha concordado em organizar a visita assim que os diplomatas chineses terminassem o encontro no Alasca.
"O desenvolvimento das relações entre a China e a Rússia não aponta para nenhum outro país. Não somos como outros países que gostam de montar esquemas onde há conspiração tácita", disse sublinhou.
No início deste mês, numa conferência de imprensa, Wang Yi referiu que os laços sino-russos estão "unidos como uma montanha", que as boas relações entre Pequim e Moscovo são "imperativas nas atuais circunstâncias" e que a associação pressupõe um "pilar para a paz mundial".
Já hoje, Hua Chunying destacou que os dois países "caminham lado a lado" e que se "opõem à hegemonia e à intimidação".
O objetivo de ambas as potências, acrescentou, é dissuadir outros países de os pressionar, sobretudo no que diz respeito aos assuntos internos.
"Não é muito sensato sancionar a Rússia e a China", afirmou Lavrov hoje em declarações à chegada a Guilin, assegurando que Pequim e Moscovo "estão à procura de uma ordem internacional "justa e democrática", regida pelas interações entre os países.
"E o modelo de interação entre a Rússia e a China é livre de preconceitos ideológicos, não está sujeito ao oportunismo e não é dirigido contra ninguém", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros russo.
Nesse sentido, espera-se que ambos os países renovem por mais cinco anos o Tratado de Boa Vizinhança e Cooperação Amigável assinado em 2001, disse Lavrov.
Nas declarações, o chefe da diplomacia russa atacou o Ocidente, em especial os Estados Unidos, por Washington pretender, "a qualquer custo", preservar o domínio na economia global e na política internacional, "impondo a sua vontade a todos e em todos os lugares".
Segundo Lavrov, o mundo está a atravessar "mudanças complexas" com a "crescente influência dos novos centros" económicos, financeiros e políticos que, defendeu, estão a levar o mundo para "um sistema verdadeiramente multipolar".
Nesse sentido, defendeu a promoção e o uso de outras moedas além do dólar norte-americano e da mudança dos sistemas de pagamentos "controlados pelo Ocidente" para reduzir os riscos de sanções.
De acordo com Lavrov, as relações entre Moscovo e Pequim estão "no seu melhor de toda a história" e que o "diálogo mutuamente respeitoso deve servir de exemplo".
Após a visita à China, Lavrov visitará a Coreia do Sul entre 23 e 25 de março.