O candidato do partido ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), Pere Aragonès, actual vice-presidente da região, teve o apoio dos radicais de esquerda da CUP (Candidatura de Unidade Popular) mas não o do outro grande partido pró-independência, JxCat (Juntos pela Catalunha), do ex-presidente Carles Puigdemont fugido na Bélgica.
Aragonés conseguiu reunir apenas 42 votos a favor da sua nomeação, tendo votado contra 61 e havido 32 abstenções, mas falhou a maioria absoluta dos de 68 em 135 deputados regionais, devido à abstenção do JxCat.
"Se não queremos perder esta oportunidade histórica (...), temos todos de ultrapassar a desconfiança", disse Aragonès durante o debate sobre a investidura esta tarde no parlamento regional.
Aragonès quer formar um governo "plural", com "toda a força, responsabilidade e legitimidade insubstituível que advém de ser o resultado de eleições democráticas".
Esta pretensão choca com o papel do 'Conselho para a República', um espaço liderado a partir da Bélgica por Carles Puigdemont e que JxCat, que até às eleições regionais de 14 de fevereiro passado era o mais votado dos separatistas, pretende que seja o motor da estratégico do processo de independência.
Três anos e meio após a tentativa fracassada de independência em outubro de 2017, os partidos pró-independência reforçaram a sua maioria absoluta nas eleições do mês passado, com 74 dos 135 assentos do parlamento regional.
Mas a ERC (33 deputados) não pode fazer eleger o seu candidato, um advogado de 38 anos, sem o apoio de JxCat (32 lugares) e da CUP (9 lugares).
Uma segunda volta de votação deverá ter lugar na terça-feira, mas se Aragonés continuar a não conseguir ser eleito, o parlamento terá apenas mais dois meses para que os partidos independentistas cheguem a um acordo, antes de serem convocadas novas eleições regionais.
As relações entre a ERC e o JxCat, que governam a região em conjunto desde 2015, deterioraram-se desde a tentativa frustrada de independência de 2017, após a qual a ERC abandonou a estratégia de rutura unilateral com Madrid e optou pelo diálogo com o executivo de esquerda liderado por Pedro Sánchez.
Um acordo entre os partidos separatistas nesta região de Espanha assegurou a eleição como presidente do parlamento regional de Laura Borràs, do JxCat e um eventual acordo entre os mesmos partidos deveria também garantir como próximo presidente do Governo regional Pere Aragonès.
Isto apesar de o PSC (Partido Socialista da Catalunha, associado ao PSOE) ter sido a formação mais votada e ter o mesmo número de deputados regionais (33) da ERC, formação que ficou em segundo lugar e que é a mais votada entre os partidos independentistas.
O PSC ganhou as eleições regionais catalãs (23,0% e 33 deputados), mas a soma dos partidos separatistas reúne a maioria absoluta dos votos, assim como dos lugares no parlamento regional, tendo a ERC (21,3%, 33 deputados) substituído o JxCat (20,0%, 32 lugares) como o maior partido independentista.
As eleições regionais de 14 de fevereiro também foram marcadas pela subida da extrema-direita espanhola do Vox, que ficou em quarto lugar com 7,6% e 11 deputados, seguida dos independentistas da CUP com 6,7% e nove deputados e o partido de extrema-esquerda En Comú Podem (associado ao Podemos) com 6,9% e oito deputados.
O grande perdedor das eleições foi o Cidadãos (direita-liberal), que nas eleições de 2017 concentrou o voto útil dos constitucionalistas (pela união de Espanha) que agora fugiu para o PSC, e desceu de 25,3% para de 5,5% e de 36 para apenas seis deputados.
Por último, o Partido Popular (PP, direita) obteve 3,8% e três lugares no novo parlamento regional.
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